segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

O STF e a cabeça de Lula

Reza a lenda que Herodes mandou prender João Batista porque este lhe recriminara o desposamento da cunhada, Heródias. A prisão não foi nada. Bom mesmo foi a festa de aniversário de Herodes dias depois.

A filha de Heródias, Salomé, dançou lindamente, tal qual uma Vênus Platinada, e encantou os olhos obsessivos de todos os presentes, sobretudo os do rei Herodes, bêbado e nos píncaros da lascívia debochada.

Claro que ele falou o que não devia: disse a Salomé - aquele pedaço de mau caminho - que ela poderia lhe pedir o que quisesse que ele o faria, sem questionamentos.

Salomé, então, orientada pela mãe - uma senhora bonita, de nariz adunco e olhos lânguidos -, pede algo delicadamente inusitado: a cabeça de João Batista numa bandeja.

Chocado, mas sem poder voltar atrás e retificar sua palavra, uma vez que poderia melindrar a 'opinião pública' da Galileia, Herodes ordena a decapitação.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Quem seduz é a mulher. Ainda bem.

Deneuve e as 99 francesas da carta ao Le Monde chamaram a atenção do mundo porque, no fundo, são mulheres defendendo homens. Homens adoram isso (que uma mulher o defenda). É um desdobramento do complexo de Édipo.

A psicologia masculina, vamos combinar, é uma das coisas mais primitivas de que se tem notícia. Homem que é homem nem sabe o que é sexualidade. Podem saber até definir o verbete, mas manifestar e modular a própria sexualidade é algo que me parece distante da realidade masculina, com todo o respeito.

Fico pensando se Lacan sabia lidar com sua própria sexualidade. Construir uma teoria ele soube. Mas e na prática?

O tema é um óbvio tabu. Sexualidade de homem é sinônimo de testosterona. Homem que manifesta alguma complexidade na arte da sexualidade acaba se descolando da significação de "homem".

A sexualidade do homem é um oxímoro. Ela se resume, basicamente, em ereção, penetração, orgasmo e cansaço. Difícil a vida da mulher heterossexual. 

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

A arte e o caráter do texto

Uma coisa, a gente já deveria ter aprendido faz tempo: arte não tem nada a ver com caráter. Quase todos os grandes artistas têm condutas e teses problemáticas, para dizer o mínimo.

Quando falam sobre sociedade e política, então, sai de baixo. Aparentemente, eles enunciam apenas com os respectivos nomes e isso é fatal. Fãs amam, sempre. E em geral, fica nisso.

Essa é uma das consequências das redes sociais - que eu, particularmente, adoro: a celebridade foi desmascarada enquanto sujeito portador de algum conteúdo intelectual. Salvo raras exceções, são seres vazios, não conseguem formular ideias básicas para  debate público.

A era pré internet os protegia. Produziam espaços de escuta sempre muito favoráveis - as entrevistas sempre foram para "levantar a bola", para "divulgar o trabalho", para preencher vazios existenciais.

Nossa, mas como você é chato! Sou. E dentro dessa chatice, poder-se-ia perguntar: quem, então, enuncia com propriedade para o debate público?

domingo, 7 de janeiro de 2018

Aos jornalistas, com amor

Profissão ingrata a de jornalista. Ao ver Pedro Bassan comemorando o pagamento de 10 bilhões de reais pela Petrobrás no acordo feito com a justiça americana como se fosse uma vitória do Felipe Massa, ou Délis Ortiz com sua dicção técnica dizendo de maneira assertiva que Roberto Jefferson se emocionou com a nomeação de sua filha para o ministério do trabalho, o meu sentimento foi de ‘expectoração’. Sim, eu tossi.  

Triste conjuntura sociológica de um país que produziu um profissional absolutamente singular. O jornalista brasileiro é um produto intelectual acabado da nossa herança escravagista. Ele serve e protege o seu senhorio com fidelidade canina e dedicação maternal. Os fatos, para ele, são mero detalhe. O que importa é se seu 'trabalho' agrada ou não.

Essa auto identificação complexa, consentida, preservacionista e certamente contraditória pode ser observada em várias facetas da prática jornalística tupiniquim.

A primeira percepção é a de que o jornalista corporativo brasileiro, locado em uma grande redação, acha que é, ele mesmo, o próprio patrão, que tem toda a liberdade para escrever, fotografar e apresentar sua leitura técnica dos fatos. 

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Dois Mil e Desenfinito

O ano começou bem. Doria pagando um mico monumental (em vetar a homenagem a Marisa Letícia), Freixo sendo a vacina - o anticorpo enfraquecido - para a esquerda não se iludir com a mídia, Dilma Rousseff na vice liderança das pesquisas de intenção de voto (favoritíssima ao senado), Lula batendo o bolão de sempre, 'intelectualizada' de grife no ostracismo e já no profundo esquecimento (obrigado), Luciano Huck implorando para continuar nas pesquisas, Temer acossado pela própria imprudência com a saúde (sua e do país), direita no fosso profundo da rejeição popular (como deve ser) e esquerda - a exceção de Freixo - unida e cada vez mais forte.
Fatos ruins, mas que irão precipitar a resposta democrática: massacre de presos em Goiás (9 mortos, duas decapitações, 100 fugas), guerra civil no Rio Grande do Norte, exército sobrecarregado com operações de segurança devido à incompetência generalizada dos estados e do poder executivo, Cármen Lúcia delirante, jurisdicionando assuntos que não são seus e enterrando a imagem da justiça brasileira e os 170 homicídios diários aqui na Terra de Vera Cruz (3 vezes maior que na Venezuela).

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Vitimização e marketing

A vitimização é uma das estratégias mais mesquinhas do mercado político. E a freguesia dela é vasta, tanto dos que a representam para si, quanto dos que se valem dela para fulminar falsos algozes, num exercício covarde de assassinato de reputações em doses homeopáticas.

O caso Freixo é emblemático. O sujeito aceita as carícias retóricas de um jornal escancaradamente reconhecido como falso conservador (o mais perigoso dos conservadores), desfila um caminhão de clichês da pior qualidade possível, revela um lado narcísico absolutamente desconhecido (um verdadeiro "furo" de reportagem), confabula com a voz do jornal encarnada na pele da entrevistadora, atinge um grau de ridículo inacreditável para um suposto filiado a partido de extrema esquerda (mancha a imagem da extrema esquerda - sic), choca adeptos e detratores pela canastrice exacerbada e, finalmente, aponta na própria entrevista-armadilha, a senha para a repercussão esperada por ambos, Folha e Freixo: o vitimismo político.