Essa crise, que atende pelo nome de "o perigo das mídias sociais", está em curso e já passou da "metade". Daqui a pouco, enterra-se esse jornalismo imbecil do século 20. O problema é o que vem por aí.
Imaginem os bancos e as autoridades financeiras enlouquecidos com uma nova unidade monetária, mais interessante, mais "coletiva", menos sujeita a fraudes - sic, mais inteligente, mais sedutora, mais inovadora?
Imaginem todos esses bancos que lhe fizeram perder anos de sua vida na fila, no telefone e na lida diária para poder pagar as taxas e os serviços de manutenção da sua conta?
Essa briga vai fazer a morte dos grandes grupos de mídia parecer um enfeite de natal.
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"'Lá no Rio, nos bairros chiques onde eu ando, volta e meia passam aquelas pessoas finas nos seus carros grandes e gritam 'viado, filho da puta!', 'viado, vai pra Cuba', 'vai pra Paris, viado'. O único consenso é o 'viado'."
Quem disse isso? Chico Buarque, no seu show de ontem em BH. Como a Folha tratou esse dito? "Chico Buarque ironiza quem o xinga". Ironiza? Se alguém achar alguma ironia nessa fala do Chico, me avisa.
Nota: 'pessoas finas' não significa mais 'pessoas educadas'. Esse sentido já morreu faz tempo, junto com 'pessoas de berço' e 'pessoas de posses'. Hoje é tudo sinônimo de 'idiotas'.
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Se alguém me chamar de 'pessoa de bem', eu processo.
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Ontem - acreditem - eu estava no altar dos clichês, das bravatas e do senso comum: sauna de clube. É bom ir de vez em quando, seja para abrir os poros, seja para matar o argumento (excesso de argumento e racionalismo também intoxica).
O problema, parceiro, é que eu sou linguista e linguista gosta de ficar de tocaia observando o que a fala humana é capaz de produzir. Ontem, meu amigo, foi pior que tiroteio. Ouvi coisas como "a culpa do racismo é dos negros", "no Brasil, pobre não vai preso", "o governo não tem dinheiro", "os cotistas abaixaram o nível da educação" e "na Suécia é 'assim'".
Pensei: o que eu faço? Aquele provérbio máximo - provavelmente falso - latejou na minha cachola: combata o mal com o mal. Joguei o problema Fifa-Globo, de maneira bem tosca e preconceituosa: "São um bando de corruptos!", falei. "Neymar devia estar preso!". "A Globo faz a seleção jogar mal, com aqueles repórteres enchendo o saco!". "O Galvão Bueno tem dinheiro na Suíça!". "O Casagrande é um drogado!". "Se um executivo da Globo pisar no exterior, vai preso!". "O Luciano Huck violou licença ambiental!".
Pegou, viu. Eles gostaram. Ficam meio tímidos em espinafrar a Globo assim de bate-pronto, afinal, tem a novela da patroa, o futebolzinho de domingo e o anti-petismo de todo o dia. Mas, quem resiste a um linchamento grátis? Aos pouquinhos, eu vou semeando esse novo eixo temático.
Nota: eu não falei que o "Casagrande é drogado", não. É que me empolguei aqui, gente, desculpa.
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A Globo fala de audiência como se fosse mera questão de quantidade. São "milhões" para cá, "milhões" para lá. Beira a indecência, a violação de direitos humanos. Dar como moeda aos nichos publicitários "eu tenho milhões de telespectadores aqui no bolso. Quer?" é estratégia torpe, atrasada, obsoleta.
A questão é a QUALIDADE do consumidor de entretenimento e informação. É o mesmo erro da Folha: ela se nivela por baixo. Nesse sentido, os youtubers estão certíssimos. A audiência deles é muito mais qualificada e segmentada que a de qualquer TV aberta. A publicidade brasileira é tão burrinha quanto a Globo. Cresceu na barra da saia da Globo. Mas, logo logo ela percebe o que está acontecendo no mundo do consumo de conteúdo.
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Cada vez que um intelectual critica as redes sociais, um neurônio pula do penhasco. Hoje foi o dia do Contardo Calligaris. Esse pessoal não cansa de produzir clichê? Façam um crítica diferente, pelo menos, não a mesma baboseira ressentida de sempre.
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A Folha só fotografa Lula sozinho e de baixo para cima. Uns poderiam dizer que é má fé. Mas eu acho que é fetiche somado a complexo de inferioridade
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E se eu encontrasse o Jucá num voo qualquer? Eu diria:
- Jucá, você é o cara! O Brasil te adora e te apoia.
Tiraria uma selfie e mandaria pro Estadão.
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"Ah, na Suécia é assim". Quando o cara invoca a Suécia, phodeu, com ph. Cansou demais esse papo de comparar sociedades tão distintas como Suécia e Brasil. "Ah, mas na Dinamarca as pessoas são letradas". "Ah, mas na Noruega, os presídios estão vazios". "Ah, mas na Finlândia, as pessoas andam de bicicleta". A subserviência do brasileiro já choca. Aliada à hipocrisia então, nem se fala.
Falar de países do nordeste da europa ocidental como exemplos de tudo é um esportezinho manjadíssimo, rescaldo das leituras facilitadas de Seleções de Reader's Digest, Veja e Época. É a clichezada que o cidadão pacato sem leitura qualificada adora produzir. E olha que tem gente importante que também faz isso, gente que se doutorou em Milão, em Paris e até em Oslo.
Falar da Suécia para criticar o Brasil é o eixo temático preferido de quem não tem a menor ideia do que seja história, do que seja método, do que seja análise. A próxima vez que um cidadão vir com esse papinho de Suécia pra cima de "moi", eu vou falar de Cuba para ele. Da medicina, da educação, da mortalidade infantil e da prevenção coletiva a furacões.
Gosta da Suécia? Vai pra Suécia!
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Se o golpe ficar numa sinuca de bico, não tem problema: ele dá aquela mexidinha de leve na bola branca. Afinal, se o golpe jogar limpo, ele deixa de ser golpe. Mas, quando você joga contra 150 milhões, fica um pouquinho difícil trapacear duas vezes seguidas.
Não se iludam: o golpe venceu em 2016 porque a popularidade do governo Dilma estava no rodapé, sabotagens mútiplas que sofreu do congresso, do empresariado e, é claro, da imprensa. Hoje, com Lula batendo em 60% dos votos válidos e crescendo, mexer na bola branca passa a ser arriscado (um taco de bilhar na fuça dói um pouquinho).
José Dirceu já disse e está certíssimo: chega de palavras, agora é REVOLTA. Ele defende o dia 24 de janeiro como o maco zero da revolução de 2018, com tudo parado até que a instituição justiça volte a operar dentro do estado democrático de direito.
Mas, a despeito da paralização democrática, da revolta e do provável governo paralelo que as forças progressistas fatalmente constituirão, o golpe está numa sinuca de bico bastante desconfortável, com uma porção de bolas adversárias no meio da mesa para piorar.
Toda a operação de "Caça à Lula" já está evidente e ganha a opinião pública internacional, especializada ou não. Noam Chomsky, Boaventura de Souza Santos, ex-presidentes, organismos internacionais, professores de Harvard, de Oxford e da maioria das universidades mais prestigiadas do mundo se chocam e dão o seu apoio a Lula, como ex-presidente e cidadão do mundo (diferentemente de muitos professores de universidades públicas brasileiras, que se calam em suas torres de marfim contrabandeado).
Resumo da opereta: não vão ser tranquilas a condenação, a impugnação e a virtual prisão de Lula, cartas marcadíssimas na cena do processo judicial viciado já largamente absorvido por tudo e todos. Uma eleição sem Lula é sinônimo de eleição ilegítima. Tudo vai depender de como Lula vai lidar com a situação.
Cidadão democrático que é, Lula vai querer evitar guerra. Ele se padece dos ativistas e apoiadores que morrem nas mãos da polícia tucana e dos maníacos infiltrados que produzem cena de vandalismo para incriminar o adversário.
De qualquer maneira, não está fácil para o golpe. Eles já perderam para a história e só falta oficializar essa derrota. Ela vai acontecer. Só resta saber como. Diante disso tudo, é preciso manter a frieza (para nao cometer erros e injustiças), a inteligência e a autoconfiança.
História acelerada via tecnologias, a bandidagem que assaltou o poder pode ter que enfiar a viola no saco antes do que a maioria das pessoas pensam. Ou pegar a bola branca e sair correndo. Mas aí, a gente pega.
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