Chega a ser engraçado observar os movimentos do governo e da mídia em meio à greve interminável e seus desdobramentos igualmente intermináveis. O Brasil não será mais o mesmo depois dessa greve, nem que queira.
O Brasil não será mais o mesmo nem a imprensa será mais a mesma. A imprensa teve o seu momento de auto flagelo e de auto ridicularização. Não fossem as mídias alternativas, o Brasil estaria nadando em desinformação generalizada – como, aliás, sempre nadou.
O débâcle da imprensa começou com a divulgação dos arquivos da CIA sobre Geisel. A informação demoliu a produção historialista do glorioso colunista Elio Gaspari, com seus seis volumes de ‘Fake History’. Locado no jornal Folha de S. Paulo e n’O Globo, Gaspari não conseguiu se explicar nem se safar do mico de ter feito um ‘fichamento’ em seis volumes de péssima qualidade factual e historiográfica. Vai para a lixeira do pensamento, junto com os livros do Fernando Henrique Cardoso.
Anunciava-se ali, com essa revelação sobre os governos golpistas Geisel e Figueiredo, a coleção de maus momentos que a imprensa familiar brasileira iria viver com intensidade dramática. A Ditabranda da Folha ressuscitou como o pressuposto mais fajuto jamais publicado em nenhum jornal avacalhado do mundo, por mais vendido que fosse. Feio.
A Dona Folha, aliás e em tempo, foi esculhambada pela sua competente ombudsman nesse último domingo. Paula Cesarino Costa afirmou que a imprensa foi “atropelada pela greve dos caminhoneiros”, com destaque especial para o veículo que a emprega.
Os erros de jornalismo básico foram, são e continuam sendo tantos, que o sentimento deste missivista nem é de deboche – embora pareça – ou de prescrição técnica: é de tristeza. Porque a imprensa no grau zero da credibilidade prejudica a democracia e atrasa todo e qualquer processo de desenlace político, de que tanto o Brasil precisa neste momento.
O jornalismo brasileiro virou um jornalismo de fofoca, de bastidor. Não se apura mais nada, tampouco se constroem pautas dignas para que se descubra algum tipo de realidade factual. Jornalismo é técnica e a técnica se perdeu.
Surpreendentemente, os jornalistas trabalhadores, aqueles que ganham menos e correm atrás da notícia, têm ao menos tentado fazer um trabalho digno. Fotógrafos, repórteres e freelancers se sobressaem na tarefa de redigir e captar informações relevantes e minimamente factuais.
Mas quando esse material chega nas editorias e passa pelo crivo do editor-chefe-censor, tudo se obscurece. A manchete mata a matéria e o trabalho do repórter é jogado no lixo. É a velha história: “podemos tirar se achar melhor”.
Nesse breu de desinformação, a greve dos caminhoneiros pôde prosperar com uma desenvoltura fantástica. Porque o próprio governo, sócio e bebedor da fonte de informação de péssima qualidade da imprensa, caiu em confusão generalizada. Em outras palavras: o jornalismo avacalhado brasileiro prejudicou até o seu financiador mais fiel, o governo Temer, ao se negar a prospectar informações factuais concernentes à greve e a editá-las com a mínima dignidade profissional.
Para vocês terem uma ideia, a imprensa chegou atrasada em todos os momentos críticos da greve. As mídias alternativas já chamaram a greve de locaute na segunda-feira, dia 21 de maio. A imprensa levou 48 horas para entender isso. Quando entendeu, já nem era mais locaute, era um movimento difuso e sem liderança clara.
O governo, por sua vez, foi aceitar que era um locaute só na sexta-feira, dia 25 de maio, quando até a imprensa já havia também abandonado essa tese (para retomá-la depois, aos espasmos do delírio do ‘salve-se quem puder’).
Um desastre completo, substanciado e generalizado. Todos os dois sócios, no entanto, imprensa e governo, tiveram que experimentar a humilhação de se informarem, aos 45 minutos do segundo tempo, pela blogosfera. Foi a blogosfera que pautou a greve com a mínima factualidade e serviu – inclusive aos jornalistas quebra-queixo da imprensa familiar – de substrato para reportagens.
Eles poderiam, ao menos, agradecer. Fato é que essa greve propiciou – e está propiciando – um espetáculo de submersão e derretimento não só do governo, mas também da imprensa que, certamente, ressuscitará com uma fênix, como reza a organização corporativa que rege as democracias por aí. Traduzindo: a imprensa se reinventa, don’t worry.
O show de horrores, no entanto, foi interessante. Só para efeito de constatação pragmática: Folha, Estadão e O Globo anunciaram umas vinte vezes o final da greve na semana passada. Uma vergonha monumental.
Para piorar, nesta semana, do alto da extrema vergonha, eles se recusaram a noticiar o fim da greve que o governo anunciava sem pudor, a todo momento. Aprenderam? Claro que não! Colocaram em prática o senso de ridículo.
O país, portanto e depois dessa greve, jamais será o mesmo. O ano eleitoral lateja nos interstícios da história. Vai varrer meio mundo como uma tsunami social que ganhou densidade na mesma proporção em que um péssimo jornalismo foi sendo praticado e em que uma população foi sendo ludibriada. A resposta está a caminho.
Tudo foi – e está sendo – muito bufo e deprimente. O espetáculo da desinformação e da incompetência não deixa de ser um espetáculo. A gente assiste como quem assiste a uma ópera. É só abstrair do colapso social que vai se intensificando.
Aliás, é digno de nota: o Brasil vive um processo agônico das descontinuidades. É pura crise de semiótica: os elementos disruptivos não são mais disruptivos: eles duram. O golpe dura (e, portanto, não é mais um golpe – é algo pior, ainda sem palavra correlata). As fakenews da imprensa e do governo duram. O estado de horror dura. O medo dura. Talvez, seja a reencarnação significante da dita... Dura. Tudo dura, nada se resolve. Tudo se agoniza e não se encerra.
Sem dúvida, a gente vive o momento social mais complexo e truncado da história do Brasil – quiçá, do mundo. Não é pouca coisa ter uma elite dessas e uma imprensa dessas, juntas. É dose para elefante.
A blogosfera, no entanto, salva. Na blogosfera tem análise sem rabinho preso. Tem diversidade. Tem polifonia. Tem interpretação real e coletiva, não esse biscoitinho podre da imprensa homogeneizante e totalitária.
De sorte que todo esse processo degradante (e ao mesmo tempo libertador, porque vai nos levar a algum lugar que não esse), foi desencadeado por um único e exclusivo fato: a prisão de Lula.
O que provoca esse volume de desencontros e confusões políticas e sociais é o sequestro do mais importante ator político de nossa história. Que não se iluda: é porque Lula está preso e incomunicável que o Brasil entrou em colapso social generalizado – não é por causa do Pedro Parente, que está na Petrobrás há dois anos.
O povo brasileiro, inclusive, dá essa chave de interpretação a todo momento. Ele coloca Lula na vitória acachapante de primeiro turno com sobra em todas as pesquisas. É uma humilhação para o golpe e para a imprensa, sem dó.
Esse dado encurrala a imprensa e o governo. Eles hesitam em produzir enunciados, uma vez que o grande manancial de enunciados políticos com credibilidade está trancafiado em uma prisão política e arbitrária.
Lula, essa inteligência desproporcional que é patrimônio da humanidade, está completamente blindado deste caos social e, mais que isso: ele é a razão pela qual este caos foi produzido. Sem Lula, o Brasil é isso. Sem Lula, o Brasil é esse.
A ausência de Lula para servir de referência política confunde até a direita e a imprensa. É técnico. Trata-se das leis do discurso: como Lula não está mais presente na rotina diária do processo político, a energia gasta com o ódio dirigido a ele foi para outro lugar.
Em suma, o ódio residual dirigido a Lula foi redirecionado para o governo, para a imprensa, para Temer e para Pedro Parente, com sua energia potencializada e aumentada em muitos níveis. Lula desorganizou a cena política e propiciou, através de sua ausência, o caos político. Ele sabia disso e é por isso que tomou a decisão de “se entregar”. Quando “se entregou”, portanto, Lula estava sendo estratégico, de posse plena de sua incomensurável inteligência política.
Resta-nos observar os acontecimentos e se preparar para a grande batalha final, que será, como sempre, Lula versus Rede Globo.
Este escriba deseja boa sorte a todos.
o mais incompreensível, é que a mídia já sabe que a população não confia nela
ResponderExcluire nem assim mudam, preferem ser escorraçados das ruas a contrariar interesses obscuros
No logro recuperar mi fb pero, voy a seguir las noticias a través de este blog Gustavo Conde. A mis 73 años, cuando me sentía derrotada vencida con Gonzaguinha, con Raúl Seixas voy a seguir con una FE profunda de que la VIDA es el mejor regalo que recibimos al nacer y que tenemos derecho a gozar de ella. TODOS JUNTOS SOMOS MÁS y más temprano que tarde conquistaremos como dice Víctor Jara EL DERECHO DE VIVIR EN PAZ!
ResponderExcluirDefender la alegría como una trinchera, defenderla del escándalo y de la rutina, de la miseria y de los miserables...¿Quién dijo artista? Yo soy un hombre apenas que ataca el miedo en su garganta...No hay cantor como bandera, ni más ni menos que un humano, con el día y la noche aquí en el cuerpo, contradicción que canta afirmaciones Que duda siempre si anuncian la derrota de lo nuevo. Defender la alegría como una bandera! Un regalo de dos uruguayos geniales Mario Benedetti y Daniel Viglietti Yo soy palabra tierna... Uno que encontró la sobrevida.. quiere cantar renacimientos, con los seres humanos en los poros cantarle a la ALEGRÍA...DEFENDER LA ALEGRÍA!!! Un humilde regalo de este paisito con dos que se marcharon pero que siguen defendiendo la alegría desde you tube! Buena vida para todos uds!
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