sexta-feira, 3 de abril de 2020

Brasil experimenta o coquetel da morte, por Gustavo Conde


"O Brasil está oficialmente extinto enquanto país. As cores da nossa ex-bandeira estão contaminadas pelas mãos imundas dos fascistas. As ruas já estavam contaminadas antes de o vírus chegar, com a degradação humana dos manifestoches, embalados na camisa da seleção brasileira de futebol, símbolo putrefato de corrupção aliando cartolagem a emissoras de televisão acumuladoras de ódio."


O mundo se abrasileirou. O Ocidente acusou a China de omitir dados porque é ele, Ocidente, que é especialista em omitir dados e mascarar estatísticas.
É como o PSDB fazia com o PT. Comprou votos para aprovar a emenda da reeleição em 1997 e acusou o PT de comprar votos (para quê mesmo?) na fraude narrativa do mensalão em 2004.
Disseram - elite, PSDB, classe média, bolsonaristas, economistas, jornalistas - que o PT destruiu o Brasil.

Agora vemos o Brasil à beira da catástrofe humanitária, sem qualquer reação digna da imprensa ou da opinião pública.
Estão todos assustados, confusos e com medo de morrer.
Enquanto isso, o governo mente descaradamente para uma sociedade assustada - cognitivamente atrofiada pela precarização da informação e pelo ódio à democracia inoculado no trabalhador pelos patrões egocêntricos.
O Brasil vai esfarelando. Primeiro foram as instituições, depois a democracia, depois os programas sociais, depois a CLT, depois a Previdência e, agora, sem intermediários, as vidas humanas.
Convém não esquecer que o genocídio do povo negro, o genocídio do povo indígena e o genocídio do povo LGBTQ já vinham - e vêm - ocorrendo de maneira sistemática e devidamente estimulada por nosso genocida-presidente.
Nessa colossal subnotificação sobre casos e mortes de coronavírus, bem ao sabor de um governo que tem a mentira como traço estrutural de seu modus operandi, vamos assistindo garimpeiros se aproveitando do momento para invadir reservas indígenas e fazendeiros bolsonaristas voltando a tocar fogo na Amazônia.
Quem vai se preocupar com desmatamento e invasão de terra em plena pandemia?
O Brasil segue amargando sua maldição por ter debochado da preservação da vida humana que era a marca dos governos democráticos e populares arrancados à fórceps pelos maus perdedores de sempre.
Os crimes-catástrofes da Samarco, da Vale - que aniquilaram a vida em dois rios inteiros em Minas Gerais - anunciavam o que estaria por vir, sendo que a maior catástrofe subsequente atendeu pelo nome de Bolsonaro, o agente agressor altamente letal que devasta nossas vidas, nossa história e nossa sanidade.
Tudo isso ainda sob a perplexidade de quem jamais esperou enfrentar de fato uma epidemia mortal que ameaça deixar um rastro colossal de destruição em um país já destruído social e economicamente.
A overdose de fake news a que o brasileiro foi exposto nos grupos de WhatsApp, nos arrancaram a referência básica da confiança no que se vê.
A foto do cemitério de Vila Formosa, com covas sendo cavadas em massa para dar conta das mortes certas que virão foi tratada por Bolsonaro como terrorismo, senha expressa para que se a acuse de "fake news".
A maneira como a sociedade brasileira vai tratando a pandemia, com extrema passividade e conformismo - traço estrutural da nossa desagregação social histórica - pode ainda produzir aberrações narrativas como aquela que colocará Bolsonaro na condição de líder contra o coronavírus.
É isso que se gesta no Gabinete do Ódio: dividendos político-eleitorais para a sequência dos processos de perpetuação no poder.
Essa crise gigantesca vai deixando lições. A primeira delas é como o ser humano dá pouco valor à vida de seu outro e a sua própria - nessa ordem.
Um país sem soberania fatalmente iria sofrer mais diante de um coquetel assassino composto por vírus, milicianos, genocidas, fake news e sentimento de impotência acumulado.
O Brasil está oficialmente extinto enquanto país. As cores da nossa ex-bandeira estão contaminadas pelas mãos imundas dos fascistas. As ruas já estavam contaminadas antes de o vírus chegar, com a degradação humana dos manifestoches, embalados na camisa da seleção brasileira de futebol, símbolo putrefato de corrupção aliando cartolagem a emissoras de televisão acumuladoras de ódio.
Que, pelo menos, tenhamos o direito de deixar o testemunho escrito desse sentimento de indignação profunda diante de tantas atrocidades juntas e enunciar o fracasso da humanidade que desdenha de seu futuro como desdenha de seu presente.
Dizem que o ser humano "se adapta". É uma bênção e uma maldição. Adaptar-se a ambientes hostis é uma coisa. Adaptar-se à própria desumanidade suicida é outra.

11 comentários:

  1. Perfeito, Conde - a gente digna lutando avisar, alarmar populaçao que pior está por vir...

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  2. Brilhante texto Conde. um abraço.

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  3. CONDE. Perfeito como sempre.💖💖💖💖💖

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  4. Gostei muito do tratamento cronológico dado pelo autor. Uma pena tudo estar acontecendo, mas ainda tenho esperança de que o povo acorde.

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  5. Acredito que muitas coisas também podem ser positivas, pois algumas pessoas já começam a ver claramente depois da bruma do neoliberalismo que na verdade quem manda e sempre mandou foi o poder econômico, não os políticos, que para um processo de corrupção precisamos de dois atores, no mínimo e que sempre um que aufere os maiores lucros, e invariavelmente vezes tem as menores penas, quando as tem. Alguns hoje começam a ver que a real necessidade de dependência não é de quem é escravizado, mas de quem escraviza e não quer ter o desprazer de limpar a própria sujeira. A percepção de que agora parando tudo, ou quase tudo, tem Barões, Viscondes, Marqueses desesperados para que os que geram riqueza no país continuem o seu ciclo de trabalho precarizado e lucros insanos com metas impossíveis para que eles possam se locupletar. Vamos conhecer a melhor maneira de combate do vírus na empatia e compartilhamento e principalmente na transformação.

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    1. É mui admirável teu pensamento, quisera compartilhar, quisera crer, nessa transformação pela empatia , por compartilhamento...

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  6. Texto maravilhoso. Vc soube como transcrever a nossa realidade. Parabéns

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  7. Reflexão exata. Nessa guerra híbrida, a ignorância e desenformação usadas como armas letais. Eu sinto muito por mim.

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  8. Tudo historia da carochinha, socialismo de caviar������

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