sábado, 11 de abril de 2020

Canal do Conde chega a 2 milhões de visualizações


"Ademais, viver em relativa liberdade intelectual não tem preço, ainda que o gesto custe a paciência infinita de ter sempre que explicar isso a quem habita as caixinhas convencionais dos movimentos-manada, tão bem tolerados e conduzidos pelas gigantes da internet - que empurram suas lógicas prêt-à-porter do varejo goela abaixo dos usuários sem autoestima"

Meu canal no Youtube ultrapassou a marca de 2 milhões de visualizações. Nem fazia ideia.
Quem eu agradeço? Vocês, é claro, amigos e seguidores deste perfil no Facebook, que são a origem de tudo (do meu trabalho e da minha produção - e continuam sendo).
O valor agregado que a gente constrói aqui é incomensurável (e a quarentena está fazendo muita gente perceber isso só agora).

Nem vou pedir inscrições. Estamos juntos, polemizando, trabalhando, sem tutela, sem igrejinha, sem favor.
O que eu mais quero nesses últimos tempos é ver meus amigos crescendo e ocupando as redes. Adoro pedir inscrições para outros canais, não para o meu - e vou continuar agindo assim.
Em tempo: não troco meus quase 23 mil inscritos no Youtube por nenhum milhão. A gente tem um nível de engajamento crítico muito mais interessante e consequente do que as ondas massivas.
Internet não é só quantidade, embora pareça. Internet é qualidade, é integração, é ousadia. Não é a competição miliciana por likes, exclusividades e monetizações. É o terreno para se semear a liberdade, para dividir conteúdo, para fazer jus à palavra 'rede'.
A mendicância de muitos youtubers por inscrições e 'superchats' é constrangedora. Alimenta a lógica bolsonara de ocupação das redes, eminentemente individualista. Tem gente que chega a colocar 10 contas bancárias para receber doações. Extrapola o bom senso.
É quase uma extensão digital da estética de programas de auditório, essa aberração ainda encarnada em Lucianos Hucks e Silvios Santos. Critica-se Luciano Huck no atacado, mas pratica-se a mesma lógica ostensiva na dimensão digital, com os olhos voltados sempre para os cifrões.
Cada um na sua. Mas eu dispenso essa escravização conceitual, até porque ela resulta em números pífios no final das contas, além de saturar a experiência digital do internauta. Se és ambicioso mesmo, construa e estimule o que corresponde concretamente ao valor real da era digital: gente.
É assim que o Facebook e e Google procedem - e não contam para ninguém, até porque a maioria esmagadora dos proprietários de canais e perfis são imunes à codificação dessa lógica (eles são muitos "grandes", eles dizem).
A própria experiência monetária está em vias de sofrer fortes mudanças, com a gentil aceleração que lhe foi propiciada pela pandemia.
São debates que os 'empresários' brasileiros de qualquer ramo não apenas repelem, mas cujo conteúdo lhes é tecnicamente hostil (e dá-lhe consultorias que replicam essa 'covardia empreendedora' estrutural).
Discutir o conceito de acúmulo de capital e de manutenção do patrimônio? É muito difícil, quase proibitivo.
Enfim, por isso a vida é interessante.
Ademais, viver em relativa liberdade intelectual não tem preço, ainda que o gesto custe a paciência infinita de ter sempre que explicar isso a quem habita as caixinhas convencionais dos movimentos-manada, tão bem tolerados e conduzidos pelas gigantes da internet - que empurram suas lógicas prêt-à-porter do varejo goela abaixo dos usuários sem autoestima.
Mas por que raios eu estou confabulando tanto em um post que era apenas para celebrar - paradoxalmente - a marca de duas milhões de visualizações do meu canal desmonetizado?
Porque eu sou uma pessoa desagradável. Eu quero tumulto, insatisfação e contrariedade.
Talvez daí que venha a nossa síndrome de paralisia política: se se diz tudo que as pessoas querem ouvir o tempo todo, por que essas pessoas irão reagir ao que quer que seja?
De qualquer maneira, volto a agradecer a vocês. Pela paciência, pela inteligência e pela conexão real que realizamos aqui, ali, e acolá.
Espero irritá-los ainda muito mais nessa sequência insana de trabalhos em quarentena.
Xêro no cangote docêis tudo.

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