"Ambas as legiões de seres infelizes e despolitizados, os petistas decepcionados dos anos 80 e 90 e os antipetistas raivosos dos anos 2000 e 2010 buscavam apenas e tão somente uma mesma e única coisa: aceitação social"
Nos anos 80 e 90, ser petista era chique, era cool, era o must.
Éramos recebidos em todas as festas com "PT, saudações".
Nos anos 2000 e 2010, ser petista passou a ser malvisto.
As pessoas te olhavam estranho e não te convidavam para as festas.
Essa é basicamente a miserável experiência social brasileira no entorno do mais importante partido da esquerda democrática do mundo.
A 'decepção com o PT' era o sentimento da "perda social" que esses brasileiros alienados, deslumbrados e despolitizados dos anos 80 e 90 tiveram ao se depararem com um status social adverso.
[Eles, no entanto, ajudaram a eleger o PT. Mas é a vida]
Como 'ser PT' passou a exigir politização real - uma vez que o PT era governo - eles abandonaram o navio para voltarem a ser o que sempre foram: racistas e conservadores.
Mas o outro lado da moeda é igualmente divertido: negar o PT nos anos 2000 e 2010 foi, por sua vez, o comportamento 'recomendado' que desaguava docemente em aceitação social.
Ser antipetista era ser crítico, sagaz, inteligente.
Ambas as legiões de seres infelizes e despolitizados, os petistas decepcionados dos anos 80 e 90 e os antipetistas raivosos dos anos 2000 e 2010 buscavam apenas e tão somente uma mesma e única coisa: aceitação social.
São, a rigor, um segmento eminentemente despolitizado, que habita as profundezas da psicologia humana - mas que, no entanto, participa de resultados eleitorais.
Quando vejo pessoas que tendem a simpatizar com o PT mas que evitam falar no PT para calibrar seus dispositivos de aceitação social nesses tempos bicudos do presente me vem um sentimento de comiseração.
Pena dessa gente que se esconde e que vive em função dos valores pequeno-burgueses de uma sociedade fracassada.
Quando lembro de ex-petistas que só foram 'petistas' um dia para degustarem a doce sensação da boa foto histórica, o sentimento de pena também me assalta.
São duas faces da mesma moeda que apenas confirmam a dimensão gigantesca que é o PT.
Mais que um partido, o PT é um definidor das práticas sociais que nos fundamentam enquanto povo.
É por isso que repiso, vez ou outra, na máxima: Lula é o resultado de toda a complexidade social do brasileiro. Ele atende - estruturalmente, psicologicamente - a todos os públicos, seja gerando amor, seja gerando repulsa (a repulsa pelo 'pai' definidor e onipresente).
A diferença é que Lula é um ser humano dotado de humanidade real, não do revestimento frívolo que habita a engrenagem das aceitações sociais no varejo.
Não fosse assim, ele também teria 'mudado' ou fundado outro partido (ou trocado o nome do partido que criou).
Entender e admirar o PT, de fato, não é para muitos, ainda que o partido seja o mais eficiente de toda a história em eleições (das 5 últimas, ganhou 4 e de todas do período pós-ditadura, ou venceu ou ficou em segundo lugar).
Triste ver a situação em que nos enfiamos por pura psicologia rudimentar de gente carente e sem conteúdo, seja negando o PT seja afirmando o PT. Afirmar uma causa de maneira vazia é tão desolador quanto negá-la de maneira vazia.
O que podemos ver no horizonte é que o ciclo do apoio 'vazio' ao PT pode estar voltando, haja vista as repulsas atuais em formação, contra Moro, contra Bolsonaro.
A história é mesmo ingrata.
Acreditem: o PT trafega soberano por entre todos esses resíduos e restos despolitizados que caracterizam tanto a atividade político-eleitoral em nosso país.
O PT é malandro (precisa voltar a assumir sua porção 'malandra' e macunaímica).
Lidar com o Brasil não é para amadores, nem profissionais, nem ninjas, nem alienígenas. Lidar com o Brasil exige inteligência e uma certa malemolência. É capoeira.
Lula ainda é o nosso capoeirista.
E a despeito de toda a miséria e de todo o castigo por que passamos, é bom saber disso.
Conde,não vejo que nos encontramos nessa situação por pura psicologia rudimentar.nos sabemos que houve um golpe e que as comunicações de massa fazem parte desse golpe...e sei lá...achei duro demais seu texto..o povo está sofrendo tanto... e a obrigação de trazer clareza política é da militância, dos partidos de esquerda, dos parlamentares...não do povo...
ResponderExcluirHoje eu entendo perfeitamente algumas manobras políticas da cúpula petista. Hoje eu consigo entender perfeitamente o Brasil daszelites mandatárias das eternas capitanias hereditárias neste Brasil que sempre me ensinaram a desejar livre, independente e protagonista de sua auto determinação, porém, muito pelo contrário, surrupiado em todas as áreas, cobiçado, e alvo sempre de ataques no que tem de melhor. O povo para essas elites tacanhas é escravo. Ainda. Até acordar. PT e a esquerda progressista fez o que pôde. Mas queimou etapas no processo. Realmente, o Brasil não é para amadores. Sejamos resistência, pelo nosso povo. Essa a maior, sem duvida. Valeu, Condão!
ResponderExcluirOi Conde. É verdade, eu consigo ver esse aspecto da politização nos grupos que conheci, afinal, minha referência é da década de 60. Isso vale também para o final da ditadura. Era legal dizer abaixo a ditadura, mas na sala de aula, muita gente exercia todo o autoritarismo que aprendeu. O ato de censurar alunos com punições era empreendido muitas vezes por pessoas que iam para as ruas fazer movimento. É a contradição social que nos assombra.
ResponderExcluirTudo é relativizado no varejo da socialidade para não gerar conflitos.
Faltou inserir o Brasil na geopolítica, mas isso será para outro artigo.
Abraços