domingo, 30 de agosto de 2020

Vácuo de poder na Folha é oportunidade para o jornalismo


O vácuo de poder na Folha de S. Paulo pode produzir uma nova forma de se fazer jornalismo, em que a figura do editor executivo desapareça.

O caminho é esse.

Não faz mais sentido tanta concentração de poder.

Se os colaboradores sérios da Folha aproveitarem o momento de "acefalia" do jornal e se "rebelarem", poderíamos ter o início de uma nova plataforma de informação.

Jornais tradicionais perderam completamente a conexão com o público leitor. É uma relação artificial e rarefeita, excessivamente protocolar, léguas de distância de uma interação real e consequente (que interfira no produto final, a informação).

É uma overdose de editorialismo.

O outro lado, tampouco, resolve por si. Ter uma relação mais intensa com o público, como nas mídias alternativas, não basta como elemento virtuoso de produção de informação.

Não raro, as interações descambam para efeitos-manada e acabamos mergulhados mais uma vez no infame protocolo auto confirmatório das redes mais fanáticas.

Falta cérebro nas mídias alternativas também (parece que falta cérebro em muitos lugares).

Processos de "tutela" de leitor são comuns, com apelos emocionais muito similares aos da TV aberta, clamando um "seguidor" bonzinho e "colaborativo", que cai na miséria da estética do fã-clube.

Não se pode produzir nada sério assim - é, por isso que, a meu ver, o grande fenômeno de liberdade e inteligência associados na construção do debate público está nas redes sociais de fato e não nos veículos alternativos institucionalizados - não são todos -, calcados em modelos velhos de mídia.

O fato é que quem ousar usar o cérebro nesse colapso por fadiga de material das mídias velhas e nesse colapso prematuro por covardia técnica das mídias "novas", sairá na frente.

Não é assim que dizem: "é na crise que se cresce"?

É hora de romper com essa hierarquia engessada das redações rupestres. É hora de romper com o sonho pequeno-burguês recalcado de se querer copiar o formato empresarial defasado das agências falimentares de jornalismo corporativo. É hora se constituir uma relação adulta com o público-leitor, sem a mesquinhez da chantagem emocional pela captação de recurso (que é uma consequência, não um fim).

O público quer respeito. O público quer coragem. O público - "nós", o público (ele não é um ente separado de mim) - queremos transparência, espontaneidade, verdade subjetiva, clareza ideológica, técnicas apuradas de redação, técnicas consistentes de interpretação, movimentos contraintuitivos de leitura.

Dentro dos meus coletivos, eu venho sentindo essa demanda forte por ousadia, por um discurso que "rasgue" a mesmice enunciativa dos gêneros "mídia alternativa" e "mídia corporativa".

Ambas trafegam se autocomplementando, em processos de autoconfirmação - e crítica viciada que se naturaliza e se folcloriza - amarrando todo o sistema na miséria do discurso bolsonarista.

A revolução não se pratica apenas nas trincheiras urbanas e deslocamentos sociais. A revolução se constrói nas práticas diárias, na indocilidade de se aceitar o já feito, o já existente.

Que esse desmoronamento generalizado dessa geração pretensiosa que gosta mesmo é de posar de inteligente e inovadora sem ser nem uma coisa nem outra, sirva de inspiração para que os atiçadores reais da mudança histórica e conceitual mostrem os dentes e expulsem a covardia de cena.

É o mínimo que se pode desejar para quem se dá o devido respeito.

10 comentários:

  1. Parabéns Conde pelo excelente artigo!! Vamos a luta!!👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

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  2. Pois, "parece" que trabalham para a elite! Querem nos manter nas trevas.
    Chegou a hora da verdade vir à tona.
    Ótimo trabalho!

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  3. Lindo o seu discurso! Parabéns Condão!!!

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  4. Tomara que a Folha pegue o embalo e se reinventa!!!

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  5. Claro, lúcido , quem faz a notícia é o povo, onde me incluo , e concerteza solar venceremos , ou morremos lutando

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  6. Parabéns 👏👏👏👏👏👏 sensacional

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  7. O Rque editoralismo da folha é quase um cabresto que direciona o leitor não questionador.
    É bom reler artigos nestes tempos difíceis...

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  8. O editoralismo da folha é quase um cabresto que direciona o leitor não questionador.
    É bom reler artigos nestes tempos difíceis...
    Boa, Conde!

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