Por causa de um piloto folclórico de carros de corrida, que esperava encontrar Deus na linha de chegada, que ganhava milhões, que jogava sujo nas pistas, nos bastidores e que servia à Rede Globo como bom homenzinho branco de elite, temos de testemunhar a representação máxima do patronato quatrocentão de São Paulo que atende pelo delicado nome de Viviane Senna.
Ela diz (hoje, na Folha): “está claro que a reabertura das escolas não agrava a pandemia”
Uma representante tão esforçada assim do mercado financeiro, dos bancos e dos empresários, talvez nunca tenhamos visto (talvez, Marina Silva pós-PT).
A “empresária e psicóloga”, “presidente do Instituto Ayrton Senna” (os apostos-clichê de um jornal que não cessa de se inscrever em mundos técnica e moralmente vexatórios), desfila um caminhão-cegonha com os lugares-comuns mais inacreditáveis sobre educação e recebe o tratamento de “um dos nomes mais respeitados da educação no Brasil” pelo jornal desinteressado da Barão de Limeira.
Vejam o que ela diz:
“O princípio de qualquer decisão em política pública deve ser lastreado em evidência científica e empírica. As pessoas temem três riscos: o da contaminação das crianças, o do óbito e o da chance de transmitirem para adultos. Mas as pesquisas e os dados mostram que esses riscos são pouquíssimo relevantes e não justificam que se mantenha as escolas fechadas.
As crianças são muito pouco suscetíveis à Covid-19. No mundo, são 24% da população, e apenas 2% dos casos de contaminados, dos quais 0,1% foi a óbito. São 37 vezes menos que os adultos. No caso da gripe, as taxas de infecção e óbitos dentre crianças é duas vezes maior do que as da Covid-19. Se não abrimos escola pensando no risco de morte das crianças, deveríamos ter mais medo da gripe.”
“Pouquíssimo relevantes”? "As pesquisas e os dados mostram"? Esse é o lastro científico da primeira-dama da velocidade? Ameaçar a comunidade escolar de maneira impostora e irônica com dados da gripe é lícito, produção? Vergonha.
Mais Viviane Senna:
“Para muitos, a merenda é a única refeição do dia ou, pelo menos, a única balanceada. Sem isso, há comprometimento no curto prazo, inclusive o de abaixar a imunidade para a Covid-19 e outras doenças. No longo prazo, pode comprometer o desenvolvimento físico, com danos irreversíveis.
Há prejuízos emocionais, porque escola é responsável por grande parte das interações sociais. Com o isolamento persistente, houve um agravamento de 83% dos problemas psiquiátricos pré-existentes, além de 30% do aumento, em crianças antes saudáveis, de um conjunto de sintomas psíquicos, como depressão e ansiedade. Mais de 30% pretendem desistir da escola.”
E a solução para tudo isso é enfiar as “crianças” de volta às salas de aula? Isso é ser científico? A “educadora” elenca uma coleção de números tão eloquentes quanto inócuos - e sem a devida interpretação técnica à luz do contexto sanitário. Como toda boa “coach motivacional”, a ilustre-irmã tem como base apenas os pressupostos do mundo empresarial travestidos de preocupação social.
O Instituto Ayrton Senna é uma fraude como poucas das que já parasitam o país nesse carnaval de avacalhações corporativas e marketings pessoais de grife. É um braço do eixo Itaú-Unibanco, túnel de dinheiro que financia projetos culturais selecionados a “dedo” para calar a boca dos intelectuais que tentam ser progressistas e flertam com a política. Estes últimos são docemente domesticados com publicações na editora Companhia das Letras, outro braço da operação “a cultura é nossa e ninguém tasca”. É a ração impostora para mantê-los todos sob rédea curta.
Eu me lembro de uma inacreditável promiscuidade do Instituto Ayrton Senna. Nas praças do pedágio mais caro do Brasil - as do estado de São Paulo - havia, até há pouco tempo, um “box” para “doações” para o Instituto. Era ostensivo: você pagava o pedágio e era quase instado a "doar" para o Instituto Ayrton Senna, com letreiros chamativos latejando a vista antes da cancela.
A prática é claramente um escândalo e uma ilegalidade. Usar as praças de pedágio para captar recursos para um Instituto privado? É uma versão piorada do Criança Esperança da Rede Globo. Se bobear essa campanha viceja até os dias de hoje - porque esse segmento é ávido por dinheiro fácil (é a versão executiva das igrejas pentecostais).
Enfim, temos a gloriosa intelectual Viviane Senna liderando a campanha pela volta às aulas.
Seria cômico, senão fosse patético.
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ResponderExcluirConde bom dia. Em sua Live do dia 16/09, comentaste sobre a necessidade dos profissionais/ jornalistas terem noção, uma disciplina no que tange a análise do discurso, assim como disciplinas, que possam auxiliar nas análises de linguagem. Pude assistir uma Live com o professor Bruno Desdará ( Professor do Instituto de Letras (ILE / UERJ)
ResponderExcluirDiretor do Centro de Educação e Humanidades (CEH / UERJ) que leciona na UERJ. Ele possui um vasto conhecimento sobre a linguagem. Pensei em você. Tente chamá-lo para uma Live, e assim dois profissionais poderiam nos auxiliar, assim como a sociedade e os jornalistas de cativeiro. Segue uma sugestão de Live que acontecerá na próxima segunda-feira com o professor Bruno. Apenas sugestão. https://www.youtube.com/watch?v=T4CuffOZEU4 - Aula de Reabertura do Período Letivo 2020-1 - Abraços. RJ
https://www.youtube.com/watch?v=zBwUiDvc6mA - Live #45, sobre o tema "O Ensino Remoto Emergencial e a Universidade Pública" com o professor Bruno Deusdará, Diretor do Centro de Educação e Humanidades da UERJ. 16/09
ResponderExcluirSão tantos ‘educadores’ oportunistas que o Grande Educador Paulo Freire deve se corar de vergonha no seu descanso eterno.
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