quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Acelera, Viviane! - por Gustavo Conde


Por causa de um piloto folclórico de carros de corrida, que esperava encontrar Deus na linha de chegada, que ganhava milhões, que jogava sujo nas pistas, nos bastidores e que servia à Rede Globo como bom homenzinho branco de elite, temos de testemunhar a representação máxima do patronato quatrocentão de São Paulo que atende pelo delicado nome de Viviane Senna.


Ela diz (hoje, na Folha): “está claro que a reabertura das escolas não agrava a pandemia”


Uma representante tão esforçada assim do mercado financeiro, dos bancos e dos empresários, talvez nunca tenhamos visto (talvez, Marina Silva pós-PT).

A “empresária e psicóloga”, “presidente do Instituto Ayrton Senna” (os apostos-clichê de um jornal que não cessa de se inscrever em mundos técnica e moralmente vexatórios), desfila um caminhão-cegonha com os lugares-comuns mais inacreditáveis sobre educação e recebe o tratamento de “um dos nomes mais respeitados da educação no Brasil” pelo jornal desinteressado da Barão de Limeira.


Vejam o que ela diz:


“O princípio de qualquer decisão em política pública deve ser lastreado em evidência científica e empírica. As pessoas temem três riscos: o da contaminação das crianças, o do óbito e o da chance de transmitirem para adultos. Mas as pesquisas e os dados mostram que esses riscos são pouquíssimo relevantes e não justificam que se mantenha as escolas fechadas.


As crianças são muito pouco suscetíveis à Covid-19. No mundo, são 24% da população, e apenas 2% dos casos de contaminados, dos quais 0,1% foi a óbito. São 37 vezes menos que os adultos. No caso da gripe, as taxas de infecção e óbitos dentre crianças é duas vezes maior do que as da Covid-19. Se não abrimos escola pensando no risco de morte das crianças, deveríamos ter mais medo da gripe.”


“Pouquíssimo relevantes”? "As pesquisas e os dados mostram"? Esse é o lastro científico da primeira-dama da velocidade? Ameaçar a comunidade escolar de maneira impostora e irônica com dados da gripe é lícito, produção? Vergonha.


Mais Viviane Senna:


“Para muitos, a merenda é a única refeição do dia ou, pelo menos, a única balanceada. Sem isso, há comprometimento no curto prazo, inclusive o de abaixar a imunidade para a Covid-19 e outras doenças. No longo prazo, pode comprometer o desenvolvimento físico, com danos irreversíveis.


Há prejuízos emocionais, porque escola é responsável por grande parte das interações sociais. Com o isolamento persistente, houve um agravamento de 83% dos problemas psiquiátricos pré-existentes, além de 30% do aumento, em crianças antes saudáveis, de um conjunto de sintomas psíquicos, como depressão e ansiedade. Mais de 30% pretendem desistir da escola.”


E a solução para tudo isso é enfiar as “crianças” de volta às salas de aula? Isso é ser científico? A “educadora” elenca uma coleção de números tão eloquentes quanto inócuos - e sem a devida interpretação técnica à luz do contexto sanitário. Como toda boa “coach motivacional”, a ilustre-irmã tem como base apenas os pressupostos do mundo empresarial travestidos de preocupação social.


O Instituto Ayrton Senna é uma fraude como poucas das que já parasitam o país nesse carnaval de avacalhações corporativas e marketings pessoais de grife. É um braço do eixo Itaú-Unibanco, túnel de dinheiro que financia projetos culturais selecionados a “dedo” para calar a boca dos intelectuais que tentam ser progressistas e flertam com a política. Estes últimos são docemente domesticados com publicações na editora Companhia das Letras, outro braço da operação “a cultura é nossa e ninguém tasca”. É a ração impostora para mantê-los todos sob rédea curta.


Eu me lembro de uma inacreditável promiscuidade do Instituto Ayrton Senna. Nas praças do pedágio mais caro do Brasil - as do estado de São Paulo - havia, até há pouco tempo, um “box” para “doações” para o Instituto. Era ostensivo: você pagava o pedágio e era quase instado a "doar" para o Instituto Ayrton Senna, com letreiros chamativos latejando a vista antes da cancela.


A prática é claramente um escândalo e uma ilegalidade. Usar as praças de pedágio para captar recursos para um Instituto privado? É uma versão piorada do Criança Esperança da Rede Globo. Se bobear essa campanha viceja até os dias de hoje - porque esse segmento é ávido por dinheiro fácil (é a versão executiva das igrejas pentecostais).


Enfim, temos a gloriosa intelectual Viviane Senna liderando a campanha pela volta às aulas.


Seria cômico, senão fosse patético. 

4 comentários:

  1. Conde bom dia. Em sua Live do dia 16/09, comentaste sobre a necessidade dos profissionais/ jornalistas terem noção, uma disciplina no que tange a análise do discurso, assim como disciplinas, que possam auxiliar nas análises de linguagem. Pude assistir uma Live com o professor Bruno Desdará ( Professor do Instituto de Letras (ILE / UERJ)
    Diretor do Centro de Educação e Humanidades (CEH / UERJ) que leciona na UERJ. Ele possui um vasto conhecimento sobre a linguagem. Pensei em você. Tente chamá-lo para uma Live, e assim dois profissionais poderiam nos auxiliar, assim como a sociedade e os jornalistas de cativeiro. Segue uma sugestão de Live que acontecerá na próxima segunda-feira com o professor Bruno. Apenas sugestão. https://www.youtube.com/watch?v=T4CuffOZEU4 - Aula de Reabertura do Período Letivo 2020-1 - Abraços. RJ

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  2. https://www.youtube.com/watch?v=zBwUiDvc6mA - Live #45, sobre o tema "O Ensino Remoto Emergencial e a Universidade Pública" com o professor Bruno Deusdará, Diretor do Centro de Educação e Humanidades da UERJ. 16/09

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  3. São tantos ‘educadores’ oportunistas que o Grande Educador Paulo Freire deve se corar de vergonha no seu descanso eterno.

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