A eleições no Rio e em São Paulo se tornaram um verdadeiro xadrez.
No Rio, com Eduardo Paes sendo atacado pelo judiciário bolsonarista, abriu-se um flanco do tamanho do Maracanã.
É isso que faz Marcelo Freixo voltar ao tabuleiro - e voltar de maneira apoteótica.
Na política, nada nunca é definitivo - essa é uma de suas essências (e é algo bom, antes que alguém se queixe).
Em São Paulo, por sua vez, Boulos surpreende.
Quem imaginaria uma chapa puro-sangue do Psol angariando 13% de intenção de voto no maior colégio eleitoral do país a dois meses das eleições?
É preciso olhar para este cenário com carinho - e com inteligência, se possível.
O primeiro comentário a se fazer é: o cansaço natural que a extrema-direita vai se impondo a si mesma tem como consequência um fenômeno quase rústico de tão evidente: a esquerda cresce.
Mas não qualquer esquerda.
O Psol e sobretudo Boulos atendem a essa demanda político-cognitiva: o eleitor quer algo novo e o "algo novo" neste momento específico é o dirigente nacional do MTST.
Os eleitores exaustos da mesmice e ávidos por um pouco de 'doçura democrática' começam a avançar em Boulos como formigas em direção ao açucareiro.
É, por assim, dizer, irresistível.
E, detalhe: Boulos cresce "apesar" do apoio sempre oportunista, rarefeito e auto bajulatório das "elites intelectuais" antipetistas - o apoio das "elites intelectuais" a Boulos seria um ônus, caso fosse significativo.
O que interessa, tecnicamente, é o deslocamento de intenção de voto real e popular que pode ser constatado na última pesquisa de opinião realizada pelo El País.
O que fazer com isso, peguntaria o militante entusiasmado ainda traumatizado pelo golpe e confuso com a péssima qualidade da nossa produção de informação e debate?
O primeiro movimento-clichê mais estúpido, reativo, espasmódico e impulsivo é dizer: "é preciso a união das esquerdas".
A gente ri para não debulhar em prantos.
Para ainda não falar do Rio, eu prossigo codificando a realidade eleitoral paulista assim: se o PT apoiar Boulos agora, ele mata a candidatura Boulos. O amor dos intelectuais pela chapa Boulos-Erundina acabaria instantaneamente - ainda que isso fosse irrelevante.
Mas a tolerância das elites 'jornalísticas' e financeiras a Boulos como o elemento anti-PT cairia por terra.
Concluir-se-ia, portanto, que a candidatura de Jilmar Tatto é importante, inclusive, para manter viva a candidatura Boulos.
Mas a julgar pela ejaculação precoce ideológica de muitos analistas progressistas e pelas complexidades embutidas em todo o cenário nacional e judicial neste momento, seria pedir demais uma decisão inteligente dos dirigentes partidários progressistas.
A ansiedade destes faz parte do problema a ser enfrentado e é um dado posto, não um vetor de resolução e deliberação.
A burocracia partidária envelheceu demais e - pasmem - infantilizou-se a mesma proporção. O fígado tem sido o elemento protagonista nessas ocasiões, sobretudo porque dirigentes enraizados se levam muito a sério e acreditam nos pressupostos patrocinados das mídias corporativas e não corporativas.
O que fazer, perguntaria uma reencarnação zombeteira de Lênin?
Eu respondo: tumultuar.
A direita está tão perdida quanto a esquerda.
É mais simples os progressistas confundi-los do que propriamente pressioná-los com racionalidade gasta.
Aliás, é isso o que a direita tem feito conosco (que acreditamos ser democráticos): nos confundido.
E com extrema competência - até por não é necessária tanta competência assim para confundir alguém.
O único ente político capaz de entender essas complexidades técnicas e encarar as artimanhas múltiplas da sociedade brasileira é 'ele' - não preciso dizer o nome.
Quando 'ele' se debruçar sobre estas duas novas complexidades eleitorais (Boulos e Freixo), teremos um parecer digno de atenção.
Fora isso, estamos em uma areia movediça minada - sic: temos tudo para vencer duas eleições nos dois maiores colégios eleitorais do país na mesma proporção em que nossos desejos reprimidos anseiam por colocar tudo a perder e a cair nos vitimismos pós eleitorais, quase um vício nas trincheiras progressistas de turno.
O sistema morre de medo do PT (do povo). Alianças prévias e coordenações devem ser feitas com extrema prudência e atenção.
Em outras palavras: eleições não se decidem mais com decisões solitárias, impressionistas ou colegiadas em curraizinhos burocráticos. É preciso ciência. Técnica. Trabalho de análise de cenários aplicada, não de achismos calcados em movimentos-manada de redes e de mídias alternativas palanqueiras.
É preciso avaliar cenários com profissionais da comunicação, não com a velharia publicitária que ainda não desmamou do conforto que é trabalhar com políticos idealistas e narcisistas.
A chance de a esquerda vencer no Rio e em São Paulo é gigantesca e quase irresistível.
Convém não desperdiçar essa chance com as discussões emboloradas de "união das esquerdas". Quem gosta da "união das esquerdas" é a direita - porque aí fica mais fácil criminalizá-las: criminaliza-se todas juntas.
Fica o recado (se é que me entenderam).
Pensando...
ResponderExcluirInteressante essa análise.Tomara que o povo não se deixe enganar outra vez.
ResponderExcluirPor que Boulos se omitiu diante da fala poderosíssima do Lula no 7 de setembro?
ResponderExcluirSó vejo uma possibilidade: vaidade (se acham melhores) e covardia.
ExcluirManter firme a candidatura de Tatto e de Benedita. Vão surpreender na reta de chegada.
ResponderExcluirFala bixo, quero poder conversar c vc sobre retransmitir a Live do Conde na page do PT Paulínia. Fico no o aguardo
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ResponderExcluirEita!!!
Releio o artigo após o 2º turno e o 1º debate (a falha de s.p.) teima em chamar de embate) porque ama uma balbúrdia. A elitezinha provinciana paulistana já está em polvorosa.