domingo, 1 de novembro de 2020

Leitura política do encontro Lula-Ciro mostra como país está: prostrado diante da ingenuidade, por Gustavo Conde

Foto: Instituto Lula


Que vergonha. O jornal Folha de S. Paulo repercute hoje a reunião entre Lula e Ciro revelada como “novidade” pelo jornal O Globo e prossegue só oferecendo informações velhas. Elio Gaspari aproveita para destilar o seu palavreado gasto, repleto de preconceito e chancela o “encontro” como acontecimento político. Ele ainda taxa a reunião - adivinha - como reflexo do “enfraquecimento do PT”. 

 

Catia Seabra assina uma matéria só com velharias, inclusive na foto - mais uma vez. Não há qualquer tipo de informação nova. Repito em caixa-alta: NÃO HÁ QUALQUER TIPO DE INFORMAÇÃO NOVA. É só especulação - e relatos mínimos de terceiros que podem, a rigor, ser a própria imaginação da fonte. 

 

Essa história só vai ser devidamente esclarecida quando Lula falar sobre ela, em alguma entrevista - possivelmente na próxima terça-feira, dia 3.  

Até lá, segue a indigência da imprensa brasileira, com jornalistas veteranos supostamente progressistas finalmente libertando seu ódio ao PT reprimido durante décadas e com outros jornalistas veteranos supostamente progressistas celebrando o encontro Lula-Ciro ingenuamente como se fosse um “aceno democrático” ao diálogo e à construção de uma frente para 2022 contra Bolsonaro. 

 

Esse pessoal habita um mundinho chamado “A época do ódio e da inocência”. Espancam o PT para ganhar pontos com os editores-chefe - e continuarem no ostracismo fim de carreira - e acenam para cenários idílicos de união das esquerdas, com lágrimas nos olhos e muito cinismo. 

 

Pelo jeito, a sociedade brasileira - toda ela, militâncias partidárias digitais inclusas - quer mais uma conciliação nacional com as elites, com jagunços tipo Ciro Gomes, com Globo, com Rodrigo Maia e com o jornalismozinho barato das redações emboloradas. 

 

Haja estômago para aguentar a tchurma autoproclamada “experiente” da imprensa semi-progressista com suas esperanças grotescas na suposta aliança Lula-Ciro. O nome disso é: pistolagem crepuscular em busca de um lugar ao sol. Destituídos de qualquer malícia, topam qualquer leitura, aceitam factoides como notícias, não têm autoestima e aguardam - como cartomantes de boteco - o desenlace dos fatos (independentes de quais sejam) para dizerem: “eu avisei”. 

 

Para não dizer que não falei de flores, deixo uma leitura grátis sobre o encontro Lula-Ciro: 1) Ciro foi comer na mão de Lula com medo de ter o mesmo destino de Marina Silva, 2) O agressor - Ciro Gomes - não pediu desculpas a Lula pela truculência odienta de longos 2 anos a fio, o que mantém a tensão política entre Ciro e PT na estaca zero, 3) Lula jamais agrediu Ciro e jamais vai agredir (“armistício” é quando duas partes se agridem e retomam o diálogo), 4) O encontro foi secreto, ou seja: ninguém quis sequer tirar uma foto (o que denota a fragilidade da inacreditável empolgação digital por uma”frente ampla” em 2022), 5) A divulgação do encontro veio em plena eleição municipal pela qualidade do nosso jornalismo investigativo [contém ironia], 6) Camilo Santana, praticamente o único petista aliado de Ciro, começou a ser descrito como “grande estadista” pela grande imprensa ao agendar a reunião [convém ponderar]. 

 

Enfim, não existe país ruim com leitura política boa. Nossa leitura política se encontra no mesmo patamar que a nossa política vitoriosa de turno: ela anda meio “bolsonarista”. Querer transformar o encontro discreto entre Lula e Ciro em um acontecimento político é superestimar demais o ex-ministro de FHC - e subestimar demais o PDT. 

 

Enquanto o nível da nossa leitura conjuntural prosseguir neste estado de miséria, o bolsonarismo prosseguirá nadando de braçada. Já são 10 anos de leitura política equivocada, com doses cavalares de ingenuidade. Seria bom mudar um pouco o disco. 

 

2 comentários:

  1. Bravo, Conde! Haja estômago de avestruz para suportar essa mídia manipuladora, hein?

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