Foto: Ricardo Stuckert
Boulos utilizou todos os conceitos criados pelo PT ontem no Roda Viva. Inversão de prioridades e orçamento participativo são apenas dois. Falou muito da volta da esperança e de “fazer política com emoção”.
Fanáticos por Boulos irão protestar, é claro (pela acusação de "falta de originalidade").
Mas, para um linguista, esses fenômenos de “desapropriação do discurso” são interessantes demais para serem reprimidos em nome do patrulhamento.
Quando um discurso troca de “mãos”, há um espetáculo técnico para ser contemplado e analisado. É iguaria pura. É como o nascimento de uma estrela para um físico: para-se para ver e relatar.
Boulos tem luz própria, claro. É muito talentoso e tende a ser cada vez mais. Mas também é mais um sintoma de que se tornar um líder original depois de Lula é tarefa basicamente impossível.
A singularidade de Boulos talvez esteja aí: na impossibilidade de se forjar uma nova liderança plena de originalidade e frescor do ineditismo - pelas dimensões monumentais do líder referencial anterior ainda em ‘ação’-, a única chance de sair da ‘sombra’ é ‘sendo a própria sombra’.
Eis o papel histórico de Guilherme Boulos. O que Ciro não conseguiu, o que Marina não conseguiu, Boulos consegue: rasgar a terra da esquerda com seu arado de Édipo e herdar a energia social que estrutura o lulismo.
Não é para pouco nem para menos: Boulos não ataca Lula como os fracassados supracitados. Bastaria isso somado a algum talento para mexer no tabuleiro político historicamente consolidado no imaginário social do país.
O sabor levemente amargo dessa engrenagem que se nos apresenta é que o PT sai fortalecido mais uma vez, pelo menos no conceito. Boulos deixa claro que todas as políticas dignas do nome - com P maiúsculo, como ele diz (um clichê) - são oriundas do PT e dos movimentos sociais que, por sua vez, fundaram o PT.
Poder-se-ia dizer que Boulos estaria muito mais confortável no PT, mas esse é o ponto: no PT, a sombra de Lula seria muito grande e, definitivamente, castradora. Em suma, ele está no lugar certo, na hora certa e do jeito certo.
Lula, na sua onipresença leitora, sabe perfeitamente o que está acontecendo e oferece seu beneplácito, transbordando sua boa e velha estratégia invisível e quase espontânea: se Boulos rompe a terra árida do lulismo e se impõe à semi-distância, Lula também se beneficia diante do surgimento de um novo líder de massas que lhe empresta o conteúdo e a forma.
O duplo Lula-Boulos/Boulos-Lula é a nova dimensão da organização progressista no país. Um precisa do outro e o outro precisa do um. Juntos, serão o antídoto para frear tubos de ensaio tóxicos como Luciano Huck e Sergio Moro. São a triangulação possível diante do sufocamento dos meio de comunicação tradicionais e da espuma festiva das mídias alternativas - que celebra ou rejeita tudo o que vê pela frente.
Em resumo, um país vai nascendo novamente sob os escombros do golpe, da Globo e de Bolsonaro. Se parte da plateia descer do pedestal das idolatrias, pode aproveitar alguma coisa e, quem sabe, também protagonizar o processo.
Política, Arte e Cultura. Como dissociar esta tríade? O artigo nos convida a revisitar as gavetas do conhecimento.
ResponderExcluirParabéns Conde, que texto lindo!
Excluir👏👏👏👏👏
Que lindeza___!!!
ResponderExcluirVida longa a Boulos e Lula!!!
Lula é sempre um parâmetro!
ResponderExcluirLula é o norte !
ResponderExcluirParabéns Conde, pela reflexão sobre esses dois gigantes. Um consolidado e histórico o outro se consolidando e fazendo história.
ResponderExcluirSem sombra de dúvidas, são 2 grandes líderes. Muito feliz pela leveza das falas de Boulos e me sinto esperançosa em ver o Lula junto com Boulos nessa foto.
ResponderExcluirComo posso falar com você Conde , goataria de lhe dar uma sugestão. Grata
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