Michael Cimino/Universal Pictures; EMI Films, 1978.
Quando a gente vê intelectuais incensados pela 'esquerda branca lacradora' defendendo a articulação na Câmara em torno de Rodrigo Maia, a gente tem a certeza absoluta de que o erro subscrito nessa "frente ampla legislativa" é de proporções monumentais.
Intelectual falando de articulação política a essa altura do campeonato é a senha definitiva para se ter a certeza de que caminho NÃO seguir.
As marcas da precarização do pensamento domesticado pelo narcisismo acadêmico não são poucas. A estrutura da argumentação deles todos, por exemplo, é a mesma: "eu pensava diferente, mas agora sei que é o melhor caminho".
É a chamada técnica retórica de antecipação: eles sabem que a realidade é outra, mas invocam a muleta sintática para forjar ponderação e humildade.
Lamento dizer: esse discurso não para em pé.
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Se no futuro, algum pesquisador em linguística quiser um exemplo definitivo sobre o que venha a ser um discurso "rarefeito", basta selecionar a família de 'ensaios políticos' - sic - produzida pelos analistas de conjuntura com pós-doc sobre as eleições na Câmara no Brasil de 2020.
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Essa massa discursiva, no entanto, é pedagógica, se lida com o devido distanciamento sanitário. Ela escancara o acovardamento estrutural que nos domina desde 2015: explicações intermináveis e assépticas sobre o esgoto do submundo político, preparando e justificando o terreno para mais uma série de derrotas.
Não raro, encontra-se nessas pérolas, a seguinte construção: "política não é para os fracos (portanto, se você não gosta do acordo com Rodrigo Maia, você é um fraco)". Típico da prepotência academicista - e, por tabela, uma confissão de fraqueza autoespelhada no discurso.
Pergunta: até quanto a esquerda vai ficar se explicando?
Pergunta 2: até quando vamos insistir em habitar o Olimpo das argumentações sofisticadas e fracassadas deixando para a direita o chão da fábrica dos enunciados codificáveis pelo povo trabalhador?
Alguém aqui acha que a população trabalhadora brasileira está interessada nas eleições na Câmara - quanto mais nas explicações fajutas sobre a necessidade de aliança com partidos de extrema direita?
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Eis a esquerda flertando com o suicídio romântico da eterna conciliação de classe.
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Detalhe: não vi mulheres analistas defendendo a frente ampla de Rodrigo Maia. Não vi negros analistas, não vi indígenas analistas, não vi analistas LGBTQ. Mas, é claro: não cabe trazer as pautas identitárias para essa discussão, não é mesmo? Homem branco e velho - mesmo de esquerda - tem pânico ao contraditório embutido na democratização do direito à fala.
É estrutural e a gente perdoa.
Perdoa?
Perdoa o escambau!
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Permitam-me dizer o que eu, do alto da minha branquitude escrota (mas que combato todos os dias), penso sobre a frente ampla legislativa - só para sair um pouco do tema técnico da precarização do discurso intelectualizado sobre a questão.
Estamos diante de uma roleta-russa. Ninguém, absolutamente ninguém, sabe o que vai acontecer ali. Quem disser que sabe ou que prognostica x ou y, mente.
Vencerá esse embate quem tumultuar mais, quem desorganizar mais os bastidores fisiológicos de todos os 513 parlamentares. Calculem o que vai acontecer no embate particular Maia versus Bolsonaro (quem tem mais a oferecer aos deputados?).
Se é para admitir que o legislativo é um esgoto, que se admita com rigor metodológico.
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E, nessa catástrofe de arrasto, quem vai sair perdendo, levando a culpa da derrota e ainda tendo que se explicar?
A resposta já está cansada de velha.
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Digo mais (para concluir): os mesmos intelectuais que desfilam em sua passarela digital particular justificando a frente Rodrigo Maia serão os primeiros a massacrarem o PT pela lambança das articulações "insoberanas".
As frases feitas já estão no prelo da mediocridade pós-eleições: "PT não soube se explicar"; "petistas atrapalharam Rodrigo Maia no convencimento a parlamentares", "falta de unidade da esquerda prejudicou votação"; "antipetismo no Congresso deu vitória a candidato de Bolsonaro", "Maia vence, mas racha impede mesa diretora a PT".
A única coisa passível de previsão neste processo é mais uma derrota certa da democracia, ao contrário do que os intelectuais de grife e alas mais experientes dos partidos de esquerda vêm advogando.
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"Impedir Bolsonaro" virou um mantra esvaziado de sentido. Usa-se qualquer argumento para "impedir Bolsonaro". Impedir Bolsonaro é, para ser tautológico, abrir o processo de impeachment.
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Há quem diga que, nesse bastidor de eleições na Câmara, a esquerda está sendo malandra, esperta, inteligente. Que estar incrustada no poder da casa pode lhe garantir sobrevida nos freios a Bolsonaro, ainda que a agenda liberal de Guedes seja irmã siamesa dos desígnios de Maia.
Maia, por sua vez, já indicou, na base do 'dedazo', o emedebista Baleia Rossi para disputar pelo 'bloco'. Este irá se reunir com a "esquerda" na próxima segunda-feira, dia 28. O que se sucederá desta reunião, ninguém sabe.
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Só para destacar o seguinte: nestas eleições na Câmara, é mais prudente observar do que se engajar. Análises engajadas - nesse contexto - mais parecem o rascunho do mapa do inferno.
Observemos, portanto. Até o dia 7 de fevereiro, muita - mas muita mesmo - água vai rolar (e, nesse caminho, muitos morrerão afogados).
a esquerda será crucificada, independente de quem for eleito e ponto
ResponderExcluirConde porque a GLeisi não ouve o Lula,para dar uma orientação sobre qual caminho eles devem seguir?Vai sobrar para a Gleisi como presdenta do PT,vir a públcio explicar o inexplicável?Como vc disse ninguém sabe o que acontecerá no dia da votação,quem disser vai acontcer tal situação estará mentindo.Rezemos e vamos torcer para a Luz Divina iluminar a cabeça de todos osdeputados e deputadas do PT.
ResponderExcluirTorço para que o PT lance candidato próprio e inicie o que voce Conde identifica como TUMULTUAR. Abraços fraternos.
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