quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

As festas macabras de réveillon, por Gustavo Conde

Festa no Leblon, interditada pelos bombeiros, ontem.

Preparem-se para uma carnificina em janeiro. Quando eu digo que somos todos negacionistas - todos nós, eu, você, tu, eles - é em função disso: não queremos ser "pessimistas" e dizemos internamente "vira essa boca pra lá".
Para quê atrair o mal, não é mesmo?
Essas armadilhas são do funcionamento da linguagem. Não tem muito o que fazer.
O instinto de sobrevivência coletivo na espécie humana já entrou para o rol das impossibilidades, ainda mais no capitalismo. Estruturada em um discurso neoliberal, a linguagem operacional do Ocidente apenas reproduz a lógica assassina das elites que detém o poder.
Isso é até velho. Está em Marx e mais explicadinho em Althusser.
A rigor, poderíamos usar a linguagem para salvar nossas vidas, como os chineses. Mas, decidimos fazer o contrário.
Cada enunciado, cada entrevista, cada matéria dos veículos de comunicação brasileiros - tradicionais ou não - tem contribuído para aprofundar nossa catástrofe.
Quando uma pesquisadora como Margareth Dalcolmo dá uma aula e nos alerta sobre o que está por acontecer, preferimos tapar os olhos e os ouvidos, todos nós ("todos nós", a minoria esmagadora que lê uma matéria como esta e consegue minimamente interpretar).
O Brasil, com problemas históricos de educação e leitura, com o jornalismo mais avacalhado do mundo, com o pior governo do planeta, deparou-se com o desafio de controlar uma pandemia feroz e sem precedentes.
Muita gente acha que iremos superar essa tragédia nos próximos meses, "com a vacina".
Desculpem, mas nossa geração não ver-se-á livre desse caos sanitário, até porque pesquisadores do mundo inteiro alertam - para desgosto geral - que estamos entrando na era das pandemias.
Merecemos essa lição. Destruímos muito o planeta. Fomos muito egoístas. Nos últimos séculos, estamos nos matando uns aos outros com impiedosa competência.
Nessas horas, vem mais uma amarga lição, para os brasileiros em especial. Trocamos a democracia por uma "genocidocaracia". Proscrevemos o mais humanista dos líderes globais de todos os tempos, Luiz Inácio Década Lula da Silva, apenas para voltar a nos matar como antigamente.
Alguém que poderia nos salvar dessa catástrofe até com mais competência que a China. Apenas pelo fato de ser alguém que presa a vida humana - e por ter inteligência e disposição para lutar pela vida humana.
Merecemos.
É verdade que fomos arrastados para essa tragédia pela imprensa, pelos maus perdedores e pelas elites.
Mas, para nosso próprio desgosto, somos uma sociedade e nos apresentamos e nos organizamos como um país, com uma língua soberana, com um gentílico e com uma carta Constitucional.
Para todos os efeitos, somos um povo - o mais desigual do mundo.
Se a linguagem ainda nos serve para alguma coisa, dada a incomunicabilidade em torno de nossa impotência simbólica, que ela signifique a palavra 'morte' - e que ressignifique a palavra 'vida'.
Ambas então próximas demais no léxico desgastado dos falantes animalizados e profundamente desinteressantes que lotam as festas macabras de réveillon.

6 comentários:

  1. Eu entendo que vc está assustado nos alertando,para a gravidade dessas festas,quantas pessoas a maioria jovens vão se continuar e contaminar oscpais,avós,todos e vão morrer.Que ano novo?Estão comemorando o que essas pessoas que negam um vírus mortal?Eu não entendo,isso!Não,são mal informados,sao egoistas,e a Elie do atraso mesmo,acham que porque tem plano de saúde, que pagam para se tratar e tudo bem.Humanidade que é desumana,pelo amor de Deus,falta compaixão,amor ao proximo,raciocínio e inteligência.Realmente eu,inocente,acreditei que a vacina iria trazer proteção desse vírus,mas hoje uma colega de trabalho,me disse que mais dois anos vemos ter que usar máscara e pra completar,esse genocida que não sai dovpoder,Debochando da gente a toda a hora,um psicopata semimite de ofender e nos negando a vacina sim.Volta década,mas pra ele voltar nos vamos ter que ir pra sim exigir doStf,suspender o Moro,já que o Congresso com o próximo presidente não acredito que vá colocaralgum impeachment.A linguagem mais importante nesse momento Conde,somos nós que queremos viver e não morrer,pois quem quer se aglomerar está dando vitória ao vírus.

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  2. A linguagem mais importante nesse momento Conde é: siga o raciocino lógico da ciência,hoje se vc se aglomerar em festas,praias seja onde for tirando férias ou satisfazendo o seu prazer em um lazer com muita gente,vc vai estar ajudando o vírus a derrotar a sua vida.Nossa vida é um dom de Deus que precisa ser preservada e se vc ama de verdade o seu próximo,não vai querer contamina-lo sabendo que sua atitude irresponsável pode levar a morte de varios inocentes.O sinal dos tempos está aí para quem tem o mínimo de raciocínio e pra quem tem uma espiritualidade avançada.

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  3. Conde, a reflexão é tão profunda e real que me belisco pra ter a certeza se ainda estou aqui...

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  4. O genocida, por absurdo que pareça, conseguiu formar um exercício de suicidas! O Apocalipse está a nossa porta, bem nosso, bem tupiniquim de verdade.

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  5. Tua lucidez e escrita exata me espantam! Grata por (re)existir! Publiquei no facebook.

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  6. Conde, faço minhas as tuas palavras. Compartilhei no facebook. Grata e saúde.

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