Foto: Prefeitura de Macaé RJ/ Ana Chaffin/ Praia Lotada
O que mais me insulta é ver brasileiro otimista com a "vacina".
O brasileiro, hoje - até os bem informados -, representa o povo mais desinformado do mundo.
Um país que tem o pior jornalismo e o pior governo do planeta simultaneamente (aliás, este último é decorrência direta do primeiro), não poderia mesmo se dar ao luxo de ter um povo informado.
A imprensa lava suas mãos imundas na bacia que transborda sangue, mas deveria se perguntar: por que o país fracassa tanto no combate à pandemia? Botar a culpa só no governo é fácil, não?
Peguem os jornais comerciais de hoje e a impressão que dá é que o Brasil está maravilhoso, pronto para a "retomada do crescimento".
"A internet está bombando e isso é bom."
"Bolsonaro lidera a popularidade digital", "Neymar faz festa para 150 pessoas", "São Paulo é líder do Brasileiro."
Eles criticam... A China! Vejam vocês! Justamente, o país que mais obteve sucesso no combate à pandemia.
Prazer, esse é o jornalismo brasileiro.
Como um consumidor deste jornalismo poderia formar uma opinião qualificada?
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Muita gente - mas muita mesmo - acha que a "vacina" já resolveu o problema.
A insanidade é tanta que é preciso uma pesquisadora da Fiocruz (Margareth Dalcolmo) vir a público dizer o óbvio: que a vacina não nos isenta de usar máscaras.
Um dos jornais tradicionais brasileiros, a Folha de S. Paulo, noticia isso, mas a escala de matérias de alerta é proporcional às nossas elites: representam 5% da massa noticiosa, se muito.
Detalhe: a vacina não chegará para todos os brasileiros. Muita gente ainda vai morrer de covid.
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Permitam-me dizer: nós estamos brincando com esta situação. Mais de 190 mil vidas foram interrompidas por nosso egoísmo atávico associado à nossa irresponsabilidade política pós-democracia.
Se alguém tiver um mínimo de responsividade - esse conceito bakhtiniano tão importante para o presente momento - e se colocar na pele de um desses 190 mil brasileiros, começará a restaurar, pelo menos, uma parte dimensão ética aniquilada por nosso ódio de classe estrutural.
Porque somos todos coniventes com essa catástrofe desinformacional em curso. Eu não sou daqueles que gosta de terceirizar a culpa - aliás, tenho alergia a "terceirização de culpa".
Não basta fazer vacina, é preciso informar - e a informação no Brasil está morta.
Triste?
Pode ser.
A verdade ou a tentativa de verdade, a rigor, não é famosa por seus apelos de felicidade. Talvez, por isso, ela seja tão rechaçada por todos nós em tempos de negacionismo endêmico.
Vida que seque. Ops, que SEGUE.
Maravilhoso.
ResponderExcluirTemos uma imprensa que subestima o seu leitor ,ou,pior, quer que este fique "na santa paz " em sua rotina. Na banca de jornal vejo as manchetes estampadas e nenhuma dá destaque ao caos da saúde pública. Nenhuma fala sobre as últimas pesquisas sobre a situação da vacina.No máximo fazem uma materiazinha sobre quem foi preso,quem não, ou quem será.Um assassinato aqui,uma confusão ali. Ponto. Na concepção dos chefes de redação isso deve ser o máximo que o leitor de baixa renda quer ou pode assimilar.E vida que seque mesmo...desidratando rápido.
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