sexta-feira, 22 de maio de 2020

Para rechaçar mais um golpe, é preciso retomar a campanha Lula Livre

Foto: Ricardo Stuckert
"É preciso retomar a campanha Lula Livre. Lula ainda está preso, proscrito pelos meios de comunicação e pelo debate político institucionalizado. Essa proscrição fere o PT de morte, porque o partido tenta, com sua lealdade, reverberar a ideia Lula"
Lula 'reaparece' e o sistema grita. 
O sistema é Bolsonaro somado à Globo, basicamente - por incrível que possa parecer. 
Por isso, eles toleram Bolsonaro. Preferem Bolsonaro - que esmaga a civilização todos os dias deixando a esquerda democrática puta da vida - a suportar Lula (esmagando a indiferença e dando um show de civilização).
É o jogo semântico dos contrários. É a futebolização da política. Eu ganho, você perde: toma.
Noção de coletividade? Coisa de comunista.
Se Lula não aparecer mais e mais e mais, todos os dias, de maneira ostensiva, sistemática e 'perturbadora', o bolsonarismo vai se manter.
Ciro Gomes pra combater o bolsonarismo? Por favor, vamos nos levar a sério. Ciro é o maior cabo eleitoral de Bolsonaro. A ele, o capitão deve a eleição. A ele, o capitão deve a resiliência perturbadora do antipetismo.
Desculpem, mas eu tenho ideia fixa em Ciro Gomes - risos.
Lula é esteio. Sem ele no horizonte simbólico, o país mingua (como está miguando neste momento).
Lula é esperança, futuro e amor.
É mais que um candidato em potencial para 2022.
Quando ele diz que prefere ser cabo eleitoral ao invés de candidato, ele assume seu papel gigantesco em todo e qualquer desenlace político para o país.
Quem pode dizer isso que Lula diz?
Ninguém.
Sem ser candidato e de maneira discreta, Lula comanda as ações para a sucessão em 2022.
Nada será decidido no país do ponto de vista eleitoral, simbólico e político sem passar por ele.
Faço, no entanto, uma observação - seguida de uma correção: não é aconselhável depositar nossas fichas em Lula e cruzar os braços esperando que ele resolva tudo.
A onipresença de Lula no cenário político brasileiro não pode ser desculpa para nos acomodarmos.
Precisamos ser arrojados. Precisamos buscar novas soluções além do PT, por mais contraditório que isso possa parecer. Precisamos somar. Precisamos nos posicionar com seriedade ao lado de Lula e para além de Lula. Precisamos superar essa briga infantiloide por protagonismos na esquerda (representada por Ciro Gomes) e colocar a mão na massa para formular uma nova e mais profunda maneira de fazer política. O momento é esse.
Sejamos parceiros de Lula, não meros 'seguidores' ou 'admiradores'. Ele precisa da gente nesse papel - que aliás, foi o papel exercido pelos seus eleitores ao longo da nossa aurora democrática, o período compreendido entre 2003 e 2016.
Até o período cascudo de preparação final ao golpe (2015-2016) foi melhor do que essa catástrofe que nos embota o presente, o futuro e a alma.
Que gesto concreto eu teria para fomentar essa tese?
É preciso retomar a campanha Lula Livre. Lula ainda está preso, proscrito pelos meios de comunicação e pelo debate político institucionalizado. Essa proscrição fere o PT de morte, porque o partido tenta, com sua lealdade, reverberar a ideia Lula.
É uma sinuca de bico.
Por isso, a necessidade de recobrar a campanha Lula Livre.
É preciso, agora, libertar a voz de Lula, a sua emoção, a sua grandeza, a sua inteligência, a sua teimosia.
Quando ela aparece - como apareceu na dita 'frase infeliz', dando até destaque no Jornal Nacional e dominando as redes sociais -, o país treme.
Fosse eu um estrategista de comunicação política, poderia dizer a Lula: é preciso 'sujar' um pouco esse discurso para incendiar o país e tirá-lo dessa paralisia humilhante. Dar o drible da vaca nessa imprensa venal tão sem caráter quanto ingênua - e afeita a morder iscas bem encaixadas no campo da interpretação de texto.
Mas eu sou apenas um observador malicioso disposto a dar uma voadora no peito de miliciano bandido.
Reeditemos a campanha Lula Livre. O gesto tem imenso poder semiótico. Lida com pressupostos e com a dimensão inconsciente da codificações políticas de passado recente. É dinamite pura.
Reinstalemos a voz de Lula na cena, sejamos sua voz, reeditemos o episódio épico da Vila Euclides de 1980, quando o sistema de amplificação de som foi sabotado e Lula discusou 'à capela' para 100 mil pessoas que repetiam cada uma de suas frases na onda sonora-humana mais espetacular da história dos discursos políticos.
Lula é isso.
E é isso que o Brasil tem de melhor.
Falamos jus a esse homem que enfrentou todos os monstros peçonhentos desse país e agora enfrenta o maior deles - porque encarnado miseravelmente em um ser abjeto de carne e osso.
Só Lula pode dar cabo desse miliciano genocida. Só a ideia Lula pode neutralizar essa monstruosidade - em grande medida criada por nós mesmos.
Sejamos humildes. Sejamos fortes. Sejamos Lula.
Nessa vibração, a gente esmaga a família do ódio - e constrói um país e uma sociedade em bases mais sólidas, mais humanas e mais democráticas.
E nunca é demais gritar: Lula Livre!

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