domingo, 24 de maio de 2020

Governo-hemorroida segue evacuando o sangue dos brasileiros

 

"O estrago que esses vermes fazem com a linguagem humana tem a mesma dimensão sangrenta do palavreado insultuoso que lhes caracteriza os intestinos - que, no caso deles, são o esôfago, que municia suas respectivas bocas, verdadeiros aparelhos excretores. 

Talvez, só respondendo com a mesma vulgaridade, o mesmo mau gosto, a mesma agressividade, o mesmo tom apodrecido, o mesmo eixo metafórico de esgoto, para se encontrar uma vacina retórica a altura que combata essa doença chamada governo Bolsonaro. 

Ser educado com essa escória é uma irresponsabilidade. Quando o sangue corre nas ruas, os ritos da boa educação tornam-se sintoma da miséria ética que caracteriza as elites covardes. 

[Lembrando que, no Brasil, ‘elite’ tem sentido pejorativo].


A metáfora da ‘hemorroida’ tão doentia quanto pedagógica. 

Em primeiro lugar, porque muitos brasileiros sofrem desta doença. Somada ao quadro de obesidade e hipertensão, gatilhos para seu surgimento, ela ilustra bem o nosso caos sanitário disparado por um governo que se recusa a governar: quem tem hemorroida é candidato a ter complicações graves caso adquira a covid-19. 

Esse é o nível de desumanidade associada à vulgaridade e desprezo que identifica a patifaria que é este governo: eles zombam das mortes, zombam da dor, zombam da vida e zombam dos próprios apoiadores, chamando-os de ‘bostas’. 

Mas o estrago que esses vermes fazem com a linguagem humana tem a mesma dimensão sangrenta do palavreado insultuoso que lhes caracteriza os intestinos - que, no caso deles, são o esôfago, que municia suas respectivas bocas, verdadeiros aparelhos excretores. 

Na dimensão simbólica, o bolsonarismo representa o aniquilamento da linguagem. Eles não usam a linguagem humana, usam um outro tipo encadeamento dessignificante: são adeptos do calão intermitente. 

François Rabelais, Marquês de Sade, Allen Ginsberg e Plínio Marcos ruborizariam diante de uma reunião ministerial desses entes boçalizados pelo terror infamiliar que lhes infecta o ânus discursivo. 

Os maiores assassinos e genocidas da história também manifestariam incredulidade (e talvez, inveja). 

Bolsonaro nos obriga a atualizar as definições de genocida: é um assassino em massa, em série (tutelado por militares decrépitos, tolerado por uma imprensa venal, amansado por chefes de poderes inúteis e covardes),  em gênero, em número e em grau. Um genocida não mata apenas seres humanos, mata aquilo que nos torna humanos: a linguagem.

Ao tratar a linguagem de maneira utilitária apenas para saciar suas demandas por poder, dinheiro e fama, os integrantes deste governo neutralizam e inutilizam a função primeira da linguagem humana que é criar sentidos (e saciar nossa demanda cognitiva, alimentando nossos cérebros). 

O bolsonarismo é um empecilho não à democracia apenas, mas à própria possibilidade de evolução. De tanto combater o darwinismo como manifestação do demônio, eles conseguiram a proeza de estabelecer uma vacina à evolução da espécie: se o bolsonarismo perdurar por mais algum tempo, em breve estaremos de volta às árvores, fugindo de predadores e quebrando a cabeça para abrir uma fruta ainda desconhecida - talvez, só produzindo sons semelhantes a palavrões, com muito spray viral e gotículas infectas.

Quando o país perde mais 965 vidas, o verme-presidente sai comemorar com a legião acanhada - sic - de parasitas-apoiadores, fazendo selfies e comendo hot-dogs. 

O serviço de demolição da possibilidade linguageira da espécie vai sendo feito, enquanto assistem ‘incrédulos’ (‘incrédulo’ é outra palavra para ‘acovardado’) os múltiplos setores progressistas ou não da sociedade brasileira em extinção. Setores ‘limpos’ e ‘inteligentes’, que se negam a descer ao lodaçal bolsonarista porque têm reputações a zelar. 

Como combater esse vermes sem descer ao seu covil putrefato, povoado pelo calão mais abjeto jamais produzido e habitado por pústulas subjetivas infernais como Damares, Salles, Guedes, Weintraubs e Helenos? 

A metáfora da hemorroida é tosca, vulgar e covarde, mas a linguagem também tem as suas sutilezas. Ela mostra que estamos diante de um governo afundado no próprio sangue e na própria merda.

Um comentário:

  1. Caro Conde! Acabo de ler para os ouvidos da minha mulher esse seu texto, que como os anteriores tenho alto grau de concordância. Minha mulher também gostou mas advertiu que você, como quase todos os escritores/falantes, ainda estaria "jogando" no campo criado pelo(s) genocida(s). Que o grande trabalho será criar um novo campo de jogo/luta/batalha, um campo onde os vetores, as partículas, as energias e os sonhos fluíssem, decantassem e criassem vida em vez de morte!

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