quinta-feira, 4 de junho de 2020

Cilada, por Wilson Ramos Filho


"Fui lembrado, por Luiz Carlos da Rocha, de uma foto histórica. Luis Carlos Prestes, secretário-geral do PCB, em novembro de 1947, ao lado de Getúlio Vargas que, anos antes, havia deportado Olga Benário, então companheira do líder comunista, para morrer em um campo de concentração nazista"

#somos70% pretende construir um #somos70% antipetistas, para tirar a esquerda (PT, PSOL e PCdoB) do jogo e construir um “novo centro” isolando os bolsonaristas e os petistas. 
De fato, há 70% contra nós, somados os bolsonaristas a esse novo centrão. Ah, mas a esquerda já está fora do jogo, blábláblá. Se estivesse tão mal assim não fariam tanta questão de nossa adesão ao projeto deles.
Esse novo centrão, pela vida, antifascista, nos convoca para aderir ao menos pior (todos contra o bolsonarismo; #EleNão). 
É um ônibus que recoloca o PSDB, Ciro e Moro como alternativas civilizadas frente à barbárie. Tem um caráter ecumênico, do bem contra o mal. 

Quem se oporá à vida, à democracia, ao combate à corrupção, ao diálogo e à concertação social? Apenas os radicais! Os fascistas, genocidas e autoritários, e a “velha e anacrônica esquerda” com seu discurso de direitos e combate às desigualdades e ao preconceito! 
Primeiro, mais urgente, derrotar o fascismo. Depois, mais tarde, falaremos em direitos e desigualdades. E sem o “hegemonismo”. O PT não dá mais, né?
Acho forçada a analogia às Diretas Já. Assimilo a proposta ônibus ao pós derrota do projeto Dante de Oliveira em 1984, às defesas que se faziam da participação no colégio eleitoral e do pacto social com Sarney. Talvez esteja errado, mas, para além de minha chatice, “me apita um treco aqui”.
Fui lembrado, por Luiz Carlos da Rocha, de uma foto histórica. Luis Carlos Prestes, secretário-geral do PCB, em novembro de 1947, ao lado de Getúlio Vargas que, anos antes, havia deportado Olga Benário, então companheira do líder comunista, para morrer em um campo de concentração nazista. 
Não estavam com cara de satisfeitos. Apesar disso, Prestes foi cobrado pelo resto de seus dias pela imagem que permitiu registrar em cumprimento de decisão de seu partido. Disciplinado, manchou sua biografia. 
O manifesto #juntos foi firmado pelo ex-coordenador da Lava-Jato e por outros procuradores do MPF que gostaram da frase “audaz combate à corrupção” nele inserida. Até o Moro quer assinar. 
Lula deveria cometer o mesmo erro de Prestes? Deve “sair na foto” junto com quem destruiu as instituições, os direitos e o futuro da classe trabalhadora? Dificilmente haverá consenso na resposta. Mas certamente a pergunta é pertinente.
Podemos até entrar nesse ônibus, depois de algumas negociações para incluir compromissos com a democracia material, para além da meramente formal. Sem isso, é cilada.
Wilson Ramos Filho (Xixo), doutor em direito, professor na UFPR, integra o Instituto Defesa da Classe Trabalhadora.

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