"Essa conciliação fajuta é mais uma armadilha para livrar a cara dessa gente que elegeu Bolsonaro e que agora não sabe para onde correr.
Que cada um lute dentro da sua verdade. Que se rompa com essa prática fracassada de se produzir verdades convenientes"
Toda vez que dou uma lida no manifesto "Estamos Juntos" eu dou risada e penso: "meu deus, que coisa ridícula".
Me digam se não:
"Como aconteceu no movimento Diretas Já, é hora de deixar de lado velhas disputas em busca do bem comum. Esquerda, centro e direita unidos para defender a lei, a ordem, a política, a ética, as famílias, o voto, a ciência, a verdade, o respeito e a valorização da diversidade, a liberdade de imprensa, a importância da arte, a preservação do meio ambiente e a responsabilidade na economia."
Pedir para acreditar nessa miséria demagógica é continuar chamando o brasileiro trabalhador de idiota.
Intelectuais caem que nem patinhos (intelectual é uma espécie de tilápia de pesqueiro: você põe uma minhoca morta no anzol e ele morde).
São os primeirões (e os idealizadores-donos). Depois do mico classista, deliberam a quatro portas: "a gente precisa achar alguns trabalhadores, negros e mulheres para assinar o manifesto. Alguém conhece?"
C médium. Eles habitam outro mundo, o mundo das ideias mortas e dos sentidos embolorados
Essa gente está morta.
C médium. Eles habitam outro mundo, o mundo das ideias mortas e dos sentidos embolorados
Essa gente está morta.
Converse com um deles e sinta-se um médium. Eles habitam outro mundo, o mundo das ideias velhas e dos sentidos cansados.
Como diz o garotinho do Sexto Sentido: "eu vejo gente morta". Foi o que eu disse quando vi o manifesto pela primeira vez.
Mas é claro: é preciso uma explicação técnica.
Para ser breve: o Brasil sempre repetiu essa fraude da frente ampla. Quando a elite erra (e erra sempre), o país se inviabiliza e nasce como que por mágica um sentimento coletivo de necessidade de união (fraudulento, óbvio) para superar a catástrofe.
Esse sentimento sempre nasce de cima para baixo. São empresários, intelectuais e herdeiros profissionais. Para entrar no "clube", muitos políticos e artistas compram a ideia, até que ela se torne razoavelmente "popular".
Por fim,os veículos de comunicação hegemônicos que ajudaram a passar a lista se apresentam como defensores da democracia. Vejam bem: "defensores da democracia". Algo tão vago quando o sintagma 'frente ampla".
Mas isso é a cultura brasileira. Tem intelectual que não entende, coitado. Diz que a elite brasileira é violenta e escravocrata, mas vai lá assinar um documento com ela (intelectual precisa viver e pagar as contas... Shhh... Não contem isso pra ninguém).
É nessa ferida que Lula pôs o seu dedo.
Mas, o problema é ainda mais estrutural.
A educação formal, da pré-escola à pós graduação é uma conquista social, mas isolada da realidade do mundo do trabalho, ela transforma o pensamento numa entidade morta e enterrada.
Marx já tinha dito isso há 150 anos, com palavras um pouco mais bem educadas.
Pois bem.
Há uma prepotência insuportável nessas iniciativas classistas de tutelar o povo. Eles repetem os mantras de que o povo não sabe votar, não sabe pensar e que movimentos de massa são perigosos.
Detestam o povo.
Por isso não suportam Lula.
Por isso Lula não poderia assinar essa fraude.
Intelectuais, empresários, herdeiros, acham que sabem das coisas, que representam a sociedade melhor do que o povo rústico que vive na imundície.
A engrenagem de coleta de assinaturas para esses manifestos é a boa e velha troca de favores entre velhos amigos. É a famosa "social". É a venda de uma marca, uma chance para gente que nunca fez nada pelo país comprar uma inserção nos livros de história.
O manifesto é vazio semanticamente exatamente por causa disso: se ele enunciar algo mais denso e verdadeiro, ele afugenta os patrões.
É por isso que eu aderi a um outro manifesto: o #NãoVaiTerConciliação
Derrotar Bolsonaro todos juntos? Todos quem, cara pálida?
Essa mania de a sociedade brasileira se conciliar toda vez que a catástrofe aparece só nos causou mais dor, mais atraso e mais catástrofe.
O Brasil precisa se libertar dessa síndrome de Estocolmo, dessa mania de lamber a casa grande como se os sinhôs e sinhás fossem repartir o seu patrimônios com o povo e como se eles tivessem qualquer espécie de sentimento cívico.
Essa conciliação fajuta é mais uma armadilha para livrar a cara dessa gente que elegeu Bolsonaro e que agora não sabe para onde correr.
Que cada um lute dentro da sua verdade. Que se rompa com essa prática fracassada de se produzir verdades convenientes.
A hora de esticar a corda é agora. O enunciado saiu da boca de um militar decrépito e aterrorizado com o vexame que se erigiu em sua volta.
É movimento popular na veia. É trabalhadores de aplicativos unidos, não donos dos aplicativos covardemente juntinhos.
É hora de o povo responder. É hora do povo preto mostrar como se faz. É hora de as comunidades LGBTQ ensinarem às elites o que é amor e o que é tesão. É hora do PT assombrar os maus perdedores de sempre. É hora de ser feliz, de não ter medo do confronto, de empunhar bandeiras reais, de pedir mais direitos.
Nós sempre temos de pedir mais, mais e mais. Se pedirmos apenas o que queremos de fato, jamais lograremos êxito algum.
Gostei. Apesar de não idealizar os movimentos sociais, qualquer saída pelo alto será a interminável repetição de golpes da nossa história. Quanto aos intelectuais, não dá para concordar mais: ô povo morto! Tenho vontade de escrever algo sobre o que essas frentes entendem por democracia, que não passa de uma massa amorfa que só beneficia os 20% da sociedade, que não por acaso são assinantes dos manifestos. Democracia inútil e mofada; democracia sem demo; democracia que eles esfaquearam sempre que puderam. Nesse sentido, o manifesto do povo preto foi direto e conceitual: Enquanto houver racismo, não haverá democracia. Taí um manifesto para Lula assinar com gosto.
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