O que eu acho engraçado pra caramba é a militância indo na onda de colunista para definir o voto. Voto é algo que se constrói ao longo da vida e diante de experiências pessoais concretas, não no bojo de teses impressionistas e levemente pistoleiras do colunismo de vitrine.
Não admira que as igrejas tenham entrado de sola na política: existe uma demanda excessiva do eleitor, progressista ou não, por ‘tutela’. Todo mundo quer ser tutelado.
Tem gente que chega ao cúmulo de dizer que vai votar no Boulos (por exemplo), ou que é preciso uma aliança ‘Boulos-Tatto’ (por exemplo), porque o fulano de tal (dá o nome do colunista) falou.
É de doer.
Cadê a autoestima das pessoas? Cadê a capacidade de formulação própria das pessoas? Cadê a educação política das pessoas?
Querem tudo mastigadinho? Tudo com a escrita mecânica e previsível dos colunistas “monogeracionais” (e monotemáticos) que jogam para a plateia almejando meia dúzia de likes condescendentes?
É por isso que eu me cansei dessa fraude paralisante que é ficar retroalimentando a idolatria capenga do colunismo de vitrine nos espaços digitais públicos que simulam diversidade - mas que, no fundo distribuem tutela.
O debate público está precarizado demais, emocionalizado demais, ‘claquetizado’ demais, servindo ao próprio monstro da indignação forjada, empresarial, que gera essa réstia infame de energia digital para manter vivas as plataformas confusas no pão nosso - amassado - de cada dia.
É um processo permanente de despolitização.
Quando eu defendo a candidatura do Jilmar Tatto, por exemplo (pelo direito que ele tem de ser candidato, pela escolha partidária a que o eleitor deve e pode ter direito) eu peço aos convictos psolistas ou aos “petistas antipetistas” que votem no Boulos com todo o tesão eleitoral que lhes convier - e manifesto minha torcida para que Boulos vença ou tenha um maravilhoso desempenho.
Mas quem entende esse tipo de postura avessa às igrejinhas e à pancadaria sub ideológica?
O tédio é grande, a chance é única e o momento é crítico. Seria a deixa para retomarmos o raciocínio histórico e a subjetividade perdida.
Mas a lona de circo armada no “empreendedorismo da esquerda digital” vai exercendo o papel de atrasar em mais alguns anos (ou décadas) a restauração da consciência de classe.
E ninguém escapa, nem os nossos ídolos do passado recente.
Nisso, a democracia realmente existe e cumpre seu papel: as armadilhas da linguagem e do sentido abduzem do mais humilde trabalhador sem escolaridade e sem acesso à internet ao mais celebrado e incensado dos intelectuais orgânicos da esquerda progressista.
É uma espécie de espelhamento pedagógico do simulacro da covid-19: o vírus da ignorância e do autoengano ideológico atinge a todos sem distinção de classe, cor, credo ou medo.
É por isso que é bom viver perigosamente: porque simplesmente não existe a outra possibilidade.
Fiquei chateada ontem ao ouvir Frei Betto por quem tenho admiração e respeito, pedir voto em Boulos e Erundina no seu canal.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirO que eu queria é que alguém cobrasse os institutos que fazem questão de esconder os partidos dos candidatos. No mínimo deveria ser possível utilizar o numero para opinar, afinal ninguém vai na urna e digita nome. Pode pesquisar e verá que os questionários desinformam, mas não vão evitar que a urna responda com gosto de povo. É 13! É Lula! Partido dos Trabalhadores!
ResponderExcluirSaudações Petista. Para que e o Por que um Partido Politico de Esquerda? Qual finalidade e importância do Partido.? Fazer e responder esta pergunta lá na Baixada Fluminense - Belford Roxo e Nova Iguaçu em 1980,81 , 82 aonde o esquadrão da morte tocava terror. Não podíamos vacilar e sabíamos que não era possível recuar no que acreditávamos. O PT nasceu destas convicções e convencimentos a partir da luta diária de seus Militantes. O Partido cresceu e se fortaleceu e hoje entendemos s sua importância e o significado de termos chegado ao Poder. Cada um que faça e responda as suas perguntas e não se limite viver nas sombras dos outros. Os que estão insatisfeitos que façam suas opções e respeitem os demais. O que não dá é negar a importância de um Partido forte e dos trabalhadores.
ResponderExcluirA linguagem é sem dúvida uma arma que degola a todos sem distinção. Excelente artigo, Conde!
ResponderExcluirJá cheguei a conclusão de que essas mídias progressistas para garantir o pão amassado nosso de cada dia deixam de lado suas reais convicções e aceitam entrar no jogo de quem paga mais. Só isso.
ResponderExcluirConde, seu texto precisa se fazer presente no colunismo de vitrine porque sua voz e visão fazem diferença. A ausência de diversidade embota e turva a visão, seja ali ou aqui. A menos que você queira se transformar num militante partidário, apartar-se de uma arena democrática empobrece o debate de ideias e ideais necessários para a construção da sociedade livre e próspera que almejamos. Sua voz é importante e deve ser repercutida.
ResponderExcluirComo?
Vou votar no Boulos já essa convicção desde o golpe e não porque agora ele está na moda Votei no Haddad pra presidente porque conhecia sua historia como prefeito de SP Não vou votar no Tatto que não conheço Sou de esquerda mas sou realista também Meu medo é no segundo turno ser Covas e Russomano Boulos está com mais chances Te admiro muito Conde Pq vc não entrevista os candidatos no seu canal e que vá quem tem coragem
ResponderExcluirQuerido Conde é meio que claro sua opção de navegar sozinho por "discordar" do que se pode chamar de pragmatismo de companheiros de esquerda mas tenho que te dizer que sua forma de agir também é de um sectarismo que lhe vai ser cobrado no futuro se seu candidato não for o vencedor pois vc ao incentivar essa candidatura talvez esteja dando de prato cheio uma grande ajuda para a vitória para a direita.
ResponderExcluirAs pessoas abdicaram do seu papel de pensar.
ResponderExcluirCaro Conde, Sofro da mesma perplexidade e angústia!
ResponderExcluir