Foto: Marcos Correa/PR
Começo com a leitura crítica de uma notícia.
Essa história de a OMS enviar uma delegação para a China para “investigar a origem do coronavírus” parece aquele velho delírio romântico do século 19 de filólogos querendo investigar a “origem das línguas” (um equívoco metodológico já superado). Como a OMS e o Ocidente como um todo fracassaram no combate à pandemia - e foram humilhados pela competência da China -, eles precisam criar algum factoide, mostrar “algum serviço”.
Só para constar: o número diário de mortos nos EUA neste momento equivale ao número total de mortos na China desde o início da pandemia até aqui, na casa dos 4 mil.
Há, portanto, o temor subscrito de os dirigentes da delegação da OMS levarem cepas novas do vírus para o país que é referência máxima no combate à pandemia (aliás, não foi fácil eles agendarem a visita - por razões óbvias).
Que a China tome cuidado e, se necessário, coloque a delegação de quarentena.
Dito isso, vamos ao que interessa.
Hoje, o jornal Folha de S. Paulo destaca uma pesquisa ainda não publicada (portanto não chancelada por um corpo editorial científico) a respeito de como o “jornalismo profissional” eleva a probabilidade de um leitor “não se deixar levar por fake news”.
O estudo tem uma série de problemas. Envolve cessões de assinatura da própria Folha, financiamento de uma consultoria parceira da Folha e números frágeis, justificados à exaustão por um texto que faz ginástica sôfrega para tentar explicar a metodologia inédita (e confusa).
Vejamos um trecho:
“No grupo que não recebeu a assinatura, 65% dos entrevistados consideraram como verdadeiro ao menos um dos textos com teor falso, na segunda rodada de entrevistas. No grupo que recebeu a assinatura, o percentual dos que acreditaram em ao menos uma fake news foi menor, 46% dessa amostra, diferença estatisticamente significativa.”
Os percentuais são muito próximos e o universo de leitura ao qual o leitor é exposto é muito limitado. Não é pesquisa séria.
Ver um jornal estalar autoprogaganda explícita em seu frontispício - depois de, dentre outras tantas coisas, publicar uma ficha falsa da ex-presidente Dilma Rousseff e se desculpar com cinismo - soa desespero.
Mas, faz parte do universo “jornalismo brasileiro”, um gênero à parte no mundo da (des)informação.
Um leitor contumaz da Folha perguntaria: mas o que isso tem a ver com a China?
Fácil.
*
Oferecer uma notícia sobre a visita da OMS à China sem a mínima contextualização é equivalente a publicar ‘fake news’. Com uma contextualização enviesada, cheia de ‘apagamentos’, pró-Ocidente, também.
Os ilustres pesquisadores ignoraram, portanto, a dimensão semântica dos enunciados, ou seja, postulam o objeto principal de sua pesquisa (a saber, o texto) como decorrente de uma língua ‘transparente’, matemática, de significado único.
A rigor, anularam a dimensão da interpretação de texto e todas as suas complexidades.
*
“Jornalistas profissionais” em massa vêm trabalhando com uma concepção de linguagem do século passado, completamente alheia às pesquisas contemporâneas no campo.
O habitat semântico deste conceito de “profissional”, solene e artificialmente associado ao ‘jornalismo’, é o mesmo daquele que associa ‘política’ a ‘profissional’. Um ‘político profissional’ é como um ‘jornalista profissional’, ou seja: ele está a serviço de si próprio (ou do patrão e/ou do operador).
*
Peço vênia para sugerir um protocolo simples de checagem de credibilidade: o jornalismo profissional brasileiro deveria se perguntar como um país do tamanho do Brasil pôde alçar o posto de um dos piores países do mundo no combate à pandemia (lembrando: são 203 mil mortos, em modo ‘subnotificação’, com viés de alta).
De quem são os créditos por essa péssima gestão? Do governo profissional?
A resposta é: de todos nós, inclusive do jornalismo.
Não existe país com governo genocida e jornalismo competente. Trata-se de uma impossibilidade lógica e técnica.
*
Já é hora de superarmos a ilusão de que o jornalismo brasileiro é uma dimensão à parte da miséria gerencial e conceitual de nossos “governos”. Um jornalismo que se fiou e se fia na distorção dos fatos na esteira da dicção neoliberal não pode ser celebrado como um valor em separado, que contrasta com a crise humanitária inédita que devasta um país inteiro.
A zona de conforto técnica que impera nas redações no que diz respeito à qualidade discursiva dos textos atingiu um ponto de basta com a pandemia. Em desespero, o jornalismo busca explicações para sua própria existência.
Reduzir a complexidade de um mundo em convulsão à dicotomia “fake news” versus “verdade factual” é infantilizar demais o debate público sobre subjetividade e interpretação de texto.
As coisas são mais complexas - e sérias - do que isso.
O grupo profissional folha deve estar no clima mea culpa. Cada artigo fake...E tem o descaramento de dizer que quem lê jornal profissional e blá blá blá.
ResponderExcluirGustavo Conde, que tal um curso para aqueles “profissionais“?
Conde sabe qual é o problema desse jornal Folha De SP e dos outros.Eles fazem tudo menos jornalismo profissional,como já escrevi para vc no código de ética do jornalista,tem que se falar a verdade ,pois é o interesse público que é o mais importante,não podem esconder a realidade dos seus leitores.Olha que fizeram com o Fernando Haddad,trablhava para els hein,(nunca deveria ter aceitado escrever coluna nenhuma,para esse jornaleco),saiu de lá sendo chamado de poste,só porque em seu twitter defendeu a inocência do Lula e criticou uma jornalista doEstadão.Ou seja odeiam o Lula,não querem que ele volta para política e odeiam oPT.Que liberde deopinião é essa que aFolha prega qeu o haddad sendo colunsita ,teve um editorail cricando aopiniõa dele?Fez muito bem o Haddad de ter saído e que aprenda a lição, os donos desses jornais ,são a favor de um ditador psicopata,mas não querem a volta de um governo democrático do PT.
ResponderExcluirConde, fui filiado ao PT por 12 anos com muito orgulho, porém ano passado me filiei à UP, de todo modo, gostaria de compartilhar contigo uma situação que me angustia há tempos: a crítica contundente que faço às esquerdas e ,especialmente, ao PT porque foi governo. Fiz o meu ensino secundário e universitário durante a ditadura militar, época na qual o governo, por meio da escola, trabalhou incessantemente na implantação de uma ideologia reacionária através a implantação de diversas disciplinas como "Moral e Cívis, Estudos dos Problemas Brasileiro-EPB e Organização Social e Política Brasileira - OSBP em toda a rede de ensino, do segundo grau e ensino superior. Essas marcar ideológicas constituíram a formação política da minha geração (Baby Boomers) que em grande parte as reproduziu para a próxima geração que nada tendo de educação política - aí vem a minha crítica, cresceu alienada por essa razão, dentre outras que o capitalismo se encarregou de inocular. Minha maior crítica é que nos governos democráticos de Lula e Dilma retirou-se, por óbvio essa aberrações, porém não se colocou nada importante no lugar dessas narrativas educativas! Dá a impressão que o modelo chinês ou russo de revolução cultural tão decantados nada ensinou a nossa esquerda tupiniquim. Será que eles tinham a esperança que só as ações práticas e o progresso social eram suficientes para mudar a subjetividade das massas? Sinto informar que "uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa"! A polícia não foi devidamente educada para citar apenas um dos cancros sociais que agora de aparecem com Bolsonaro. Que ensino formal de direitos humanos efetivo, por exemplo, foi implantado com energia suficiente para trocar as orientações dos jovens. O resultado aí está! Na revolução cultural chinesa o ensino socialista foi tão forte que houve casos de filhos que denunciaram pais reacionários, para se ter uma ideia. Leva-se uma geração para produzir efeitos reais. É hora da Esquerda pensar sério sobre isso. Você que é da área, se puder comente com suas costumeira lucidez. Abração.
ResponderExcluirDentro de uma Pandemia ainda não Controlada,já atingindo a Marca de 2 Milhões de Mortes, é Incompreensível/Inaceitável que Uma Comitiva do Ocidente, onde a Pandemia está ainda Descontrolada,Transitem entre Países, Muito Menos entre Continentes,ainda mais para a China,país com a Moléstia e Óbitos Sob Controle desde o Início do Ano e com menor Índice de Mortes,quatro mil e pouco,o equivalente ao de uma Cidade Médio Porte. É Um Erro, Uma Preocupação, a China Receber Possíveis Vetores do Ocidente com o Vírus em Plena Mutação,Haja Vista, que o Ocidente, Capitaneado pelo Trumpismo se Esforçam para Colocarem a Culpa do Aparecimento do Vírus, seja uma Criação da China como "Guerra Química" Contra o Ocidente, com uma Acusação tão Insistente, até Usando a Narrativas em Colocarem em Dúvidas,o Bom Desempenho Chinês no Combate ao SAR-CV2 em Tempo Recorde,em Ima Contaminação que Começou Exatamente Pós Visita de Comitiva Estadunidense, mesmo com Indícios/Suspeita,Ainda Sem Clara Comprovação que o Vírus já Circulava nos Estados Americanos, Inclusive com Óbitos. São Fatos Circulados em Matérias Científicas, Aparentemente Abafado, Sem Condições ou Continuidade de Investigação.
ResponderExcluirEspero que a Equipe da OMS Não Esteja Sendo Usada com Objetivos Políticos e Muito Menos de Guerra; e Sim de Cooperação a Um Inimigo Comum que Requer Esta Parceria.