Salles, fundador e editor da revista e um dos maiores documentaristas brasileiros, percebia que a Amazônia seria o palco de uma peça trágica sobre o país. Então não imaginava que a pandemia da Covid-19 iria tornar o cenário ainda mais devastador. A recente demissão do sinistro ministro Ricardo Salles não amenizou os temores que cercam o meio-ambiente, os povos indígenas e a própria sobrevivência do planeta.
Os achados e as reflexões de Salles, o João, sobre a Amazônia serão um dos assuntos da entrevista que ele dará neste domingo, às 20 horas, na Live do Conde. O acesso será por três canais do Youtube: Gustavo Conde, Rede TVT e Grupo Prerrogativas. Na condução da entrevista estaremos Conde e eu.
Vamos exibir alguns trechos de filmagens que João realizou na Amazônia, além de cenas de filmes seus como Entreatos, Santiago e No Intenso Agora. Trata-se de uma filmografia essencial para compreendermos não só os caminhos da grande política e das micropolíticas familiares, como também os procedimentos e os impasses de quem faz documentários – essa complexa tarefa de transformar o real em cinema.
João Moreira Salles tem no documentário uma ferramenta para sua curiosidade sobre as imagens advindas diretamente do mundo. Sua formação tem menos a ver com a cinefilia do que com o jornalismo e as leituras teóricas e científicas. Ele é um dos responsáveis pela criação do Instituto Serrapilheira, que financia e apoia a pesquisa e a divulgação científicas no Brasil.
A cada filme João procura explorar um formato possível de documentário e, muitas vezes, colocar indagações sobre a própria natureza do cinema documental.
O curta sobre Ana Cristina César, Poesia é Uma ou Duas Linhas e Atrás Uma Imensa Paisagem (1990), é um perfil de artista traçado no experimentalismo e na videoarte. Impulso semelhante anima Blues (1990), sobre a música-lamento afro-americana. Na minissérie Futebol, João e seu parceiro Arthur Fontes combinaram diferentes procedimentos documentais, com destaque para o episódio sobre Paulo César Caju nos moldes do cinema direto americano, o método mais utilizado e difundido teoricamente por João.
O cinema direto, ou documentário observacional, predominou em Nelson Freire (2003) e Entreatos (2004), cada um problematizado pela natureza de seus personagens centrais. Já Notícias de uma Guerra Particular (1999) e O Vale (2000), feitos originalmente para a TV, se aferravam ao modelo do documentário de reportagem. Santiago (2007), por sua vez, afiliava-se ao documentário pessoal-familiar e veiculava uma autocrítica acerba quanto à relação diretor-personagem. No Intenso Agora (2017) trazia um João plenamente instalado no documentário ensaístico, ecoando seu apreço pelo cinema de Chris Marker e Harum Farocki.
Quem já o ouviu sabe que é sempre um privilégio. Sua
presença na Live do Conde tem tudo para ser uma grande atração.
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