Grande parte da
frustração/incompreensão/fobia dos colunistas "old school" com
relação ao Facebook é puramente de ordem libidinal. É algo tão simples de
explicar que chega a dar preguiça. Por isso, vou complicar um pouco e vou
acrescentar outros ‘sujeitos’ à pesquisa.
Não se trata
apenas de colunistas, bem entendido. São artistas, escritores, celebridades e
subcelebridades com pendores político-existenciais de toda sorte e uma dose
maciça de PCA (Puta Carência Afetiva) - além, é claro, do péssimo hábito de serem
paparicados desde a mais tenra construção analógica da fama.
Sim, essas
criaturas são do período pré redes sociais e não se adaptaram a ele. A seleção
natural já os excluiu desse processo da evolução do universo simbólico-social.
A transição, no entanto, é lenta. Eles vão reclamar até que ninguém mais dê
bola (até a imprensa deixar de publicar suas reflexões profundas e
saudosistas).
O elemento
homenageado de hoje é o colunista de jornal tradicional. Mas poderia ser um
ator da Globo, um ex-participante de BBB, um jogador de futebol, um escritor
consagrado, um professor renomado ou mesmo um apresentador de televisão.
O ponto é: essas
personagens não sabem escrever no mundo real da escrita digital, a mais massiva
e interativa da história. Eles têm imensos preconceitos e se autolimitam em
função destes. No caso dos atores globais e esportistas-celebridade, o buraco é
até mais embaixo: eles não sabem sequer redigir um texto - vide Luciano Huck.
Qual a
consequência disso? Eles são obrigados ou a se auto excluírem das redes sociais
ou a comprar likes e compartilhar conteúdo. Em geral, um media training, um
personal stylist e um ghost writer podem dar conta de criar alguma vida digital
a esses analfabetos textuais. Mas, o mais simples é reclamar ou se afundar no
Twitter que se contenta com 280 caracteres.
Facebook para
eles é terminantemente proibido, porque Facebook é texto. O usuário de Facebook
precisa saber se comunicar de alguma
maneira que não seja a mesmice fática e oral do dia a dia. Ou: precisa entrar
no jogo e ter humildade.
Mas como uma
celebridade vai ter humildade? Como um ator que recebe 500 vezes mais que um
professor vai se dispor a argumentar em rede social? Como um jogador de futebol
ou um apresentador de televisão que faturam milhões vão ter a condição de
mobilizar algum tipo de concentração cognitiva para redigir ou debater seja lá
o que for?
Como um
intelectual com vários livros publicados vai descer do pedestal de celebridade
editorial para argumentar com os usuarios reais que habitam as redes e demandam
por sentidos reais - não aquele biscoitinho meio acadêmico, meio autoajuda,
meio palestra motivacional e fruto da mais domesticada e luminosa “bolha”?
Esses usuários
operam apenas com as respectivas famas pessoais. Não vivenciam as redes. No
fundo, eles as desprezam, porque elas lhe tiraram boa parte das máscaras. Estar
cara a cara com um leitor de posse do gesto de enunciar não é para qualquer um.
Esses usuários antiquados e deslocados arrebanham fans clubes e vivem justamente
do like que criticam tanto, o "like das celebridades", o "like
de favor", o "like sem sentido concreto".
Aquela proteção
da celebridade garantida por imprensa e editoras deixa de existir. No facebook,
ou é cara a cara ou é um prolongamento obsoleto das relações frias
testemunhadas em lançamentos de livros com vinho branco e bolachinha. A
impossibilidade de dar um autógrafo na rede social lhes deve ser extremamente incômoda.
De sorte que
eles criticam as redes sociais da alvorada ao crepúsculo de seus dias
emocionantes e assaz reais. Convenhamos: alguém já viu perfil real de
celebridade em rede? São raros. Fazem fanpages, o que é mais "seguro".
Justificam que há muito ódio digital (haja covardia e falta de conteúdo).
Tome-se perfis
de jornalistas renomados, veteranos e ver-se-á uma caverna escura repleta de
teias de aranha. Isso é inadmissível para um profissional de tantas glórias.
Portanto, que se critique as redes diuturnamente.
É curioso,
porque o ódio digital é, no fundo, oriundo desses rebentos do showbiz sub
intelectual. Demétrio Magnoli, Clóvis Rossi, Otávio Frias, Eliane Cantanhêde e Merval Pereira amargam o autoexílio consentido de uma plataforma genial, por
pura arrogância.
Eles, no fundo -
na profundeza mariânica de seus inconscientes rochosos -, ressentem-se de não poder
usar a plataforma. Veem-se autolimitados, escravizados no cativeiro das
redações, editoras e festinhas patrocinadas. É uma solidão sem precedentes.
Isso é, sem
dúvida, uma quebra de paradigma. Aquela idolatria, aquela admiração por um
ator, por um escritor, vira pó, quando você lê o que ele é capaz de escrever
numa rede social. Caem no ridículo com imensa frequência e isso vai minando o psicológico já frágil destes seres tão mimados pela estrutura de proteção
intelectual-social presente na ceninha retrô das TVs, livros físicos e
palestras.
Esse mundo
acabou. Como o golpe - que também acabou - ele só esqueceu de ir embora. Pode
demorar, mas uma hora ele vai - e já irá tarde.
Eles vão
continuar se escondendo nas mídias ultrapassadas. Uma entrevista no Serginho
Groisman, uma entrevista à Fátima Bernardes, uma aparição na Globonews, um
artigo na Folha de S. Paulo, um livro publicado pelo editor amigo, uma foto na
coluna social, um prêmio de alguma revista, enfim, alguma atividade redentora
para fazer a manutenção de vidas tão bem sucedidas e inesquecíveis.
Quando tiverem de
escrever de verdade, de posse de algum sentido, eles virão às redes com a
imensa prepotência habitual e nos garantirão a diversão da semana. Até lá, só
nos resta não ler os seus livros e artigos. Ou não. Para falar a verdade, a
última vez que li o Luciano Huck, eu me diverti pra caramba.
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