E a blogosfera - o termômetro político mais confiável neste momento - acentuou a percepção sobre o significado da intervenção militar no Rio. Requião, no 247, antecipa que ela tem como objetivo o caos, para, assim justificar o cancelamento das eleições.
Kátia Abreu, no mesmo 247, diz que a intervenção é cortina de fumaça para atenuar a derrota do governo na reforma da previdência (leitura compartilhada pela grande imprensa).
Nassif põe a conta na Globo, com extrema fidelidade aos fatos. Deixa entrever que o desfile da Tuiuti realmente atingiu o governo e aponta para o recrudescimento do golpe, mais uma vez.
O Tijolaço costura mais um texto épico, sobre o comandante da operação, o general Braga Neto. Fernando Brito questiona se o general vai combater o crime organizado de frente ou se vai apenas fazer pirotecnia. Óbvio que ele sabe que é a opção 2. Mas Brito é tão correto e tem tanto caráter, que deixa em aberto a soberania estratégica do quadro militar.
O Tijolaço vai se impondo como um periscópio nessa pátria afundada, ainda que Brito rechace a alcunha. Sua tese da intervenção - desintervenção ganhou o tecido jurídico. Diz ele que "é essa vergonha que vai para o STF". Ou seja: intervém no Rio, mas "desintervém" para votar a reforma da previdência - já que há um espasmo constitucional no meio desse caminho.
DCM, Conversa Afiada, Pragmatismo Político, Carta Capital, Viomundo, todos seguem na mesma direção interpretativa, com nuances aqui e e ali.
Mais que isso: irradiam suas teses para a grande mídia, que na absoluta ausência interna de produção de conteúdo confiável, vai dando o braço a torcer e comprando a blogosfera, sem admitir (o que é fácil, já que são nichos de leitores diferentes - qualidade do leitor inclusa). Menos a Globo, diga-se, que constrói a sua própria realidade há mais de 50 anos.
Ou seja: houve uma mudança de peso nas percepções do golpe. A escola de samba Paraíso de Tuiuti precipitou essa percepção. Ela enfureceu o consórcio do golpe, sobretudo porque afrontou a emissora carioca de televisão em transmissão ao vivo e em muitas cores para todo o país.
O bom comportamento dos acontecimentos não esperava por isso. Por isso, a intervenção militar desesperada e desprovida de embasamento técnico. Aliás, como o próprio Estadão publicou hoje, em matéria que aponta que, técnica e estatisticamente, a violência não cresceu no Rio nesse último ano.
Em suma, o Brasil, na verdade, precisava disso. Precisava de um ponto fora da curva - a Tuiuti - para precipitar os acontecimentos. A eleição se aproxima perigosamente para o golpe. Já passou o carnaval e eles não têm - nem terão - candidatura viável. Voltamos a ter que recorrer ao Imponderável de Almeida. Ele será cada vez mais acionado por este missivista.
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