terça-feira, 24 de julho de 2018

O abandono dos programas de vacinação faz a morte rondar o país



Temer é a expressão máxima da catástrofe humana. Ele deveria – deverá – ser condenado um dia por crimes contra a humanidade. O que ele faz com o patrimônio público é caso de polícia, é o tucanismo em seu grau mais degradado de subserviência sub intelectual.

Mas o que ele faz com a questão humanitária no Brasil só tem paralelo com os maiores genocidas da história moderna, de George Bush a Saddam Hussein, de Pinochet a Donald Trump.

Temer não está sozinho nisso, claro: é ele e seu governo, ambos tomados pelo tucanismo mais medíocre e subdesenvolvimentista, uma parceria infame da desgraça.

Na linha desse tucanismo destituído de toda e qualquer capacidade gerencial e ainda acometido de uma gama imensa de ressentimentos e frustrações intelectuais, Temer simplesmente abandonou os programas de vacinação universal brasileira, um dos programas de imunização mais elogiados do mundo.

A cobertura de vacina no Brasil é – foi – uma das mais bem sucedidas do mundo, é preciso dizer e destacar. Erradicou várias doenças e colaborou para que o Brasil democrático do passado cumprisse as metas do milênio com 10 anos de antecipação.

Desde o golpe, a mortalidade infantil cresceu, dezenas de doenças erradicadas retornaram com força e, neste infeliz dia de hoje, ficamos sabendo que, só este ano, mais de 840 pessoas morreram em função de gripe, sendo que a maioria é de crianças.

Tudo porque o ministério da saúde foi sucateado e rifado, evidentemente, pela brutal falta de visão estratégica e humanitária de um governo que já nasceu podre e usurpador de ofício.

Temer chegou a tirar dinheiro dos programas de vacinação para colocá-lo em campanhas de propaganda pessoal, direto nos cofres da hiper aparelhada Secom.

O resultado é esse. O Brasil não resistiria, de fato, a uma nuvem de gafanhotos tão assassina. Interromper processos delicados e longos de assistência médica e social, só para demarcar distância ideológica dos governos do PT se mostrou uma das mais incríveis estupidezes que a história política do Brasil teve a capacidade de produzir.

Não há literatura para isso. Dará um trabalho imenso verbalizar e organizar tamanha loucura de uma casta de políticos corruptos alçados ao poder por uma imprensa suja e igualmente genocida.

A minha paciência retórica com esse holocausto social que se promove no Brasil já vai se esgotando. Dizem por aí que fazer comparações do Brasil com o nazismo e com as catástrofes genocidas que se alastraram pelo mundo no século 20 é um exagero. Eu não me intimido.

Não me intimido e acho, na verdade, que é pouco. Entendo que Michel Temer e PSDB juntos são muito piores do que qualquer regime autoritário e genocida que já tenha despontado em algum país mundo afora.

Porque esses agentes da desgraça e do desespero operam a matança de um povo por trás de uma cortina de proteção de uma imprensa igualmente cúmplice e criminosa, que denuncia os horrores de um governo de maneira ‘asséptica’ e não é sequer capaz de dar uma linha editorial mínima e humanamente indignada, como rezaria o bom jornalismo que não se apega a teorias de “neutralidade” do passado, concepção técnica obsoleta no que diz respeito à produção jornalística.  

Eu sinto profunda vergonha da falta de caráter da nossa imprensa, que já passou de todos os limites de impostura e desumanidade. Eu sinto profunda vergonha de uma classe média que permitiu que o país fosse mergulhado em tamanho desespero e em tamanho absurdo político.

Eu sinto profunda vergonha da apatia e da cabeça baixa de muita gente que perambula pelas ruas e assiste deprimida ao caos social e humano que uma facção criminosa instalou, via golpe, em uma sociedade que ia construindo com muita dignidade e de maneira acelerada o seu futuro e o futuro das próximas gerações.

Perto disso, Petrobrás e Embraer são café pequeno. Perto da desumanidade, do cinismo assassino de um governo incompetente e indiferente, as riquezas acumuladas do país que estão sendo doadas são só um detalhe.

A devastação social e espiritual de um país inteiro é a nossa grande e imensa ferida que iremos carregar para toda a vida juntamente com a herança degradada que deixaremos para os nossos filhos, igualmente tomados pela vergonha de serem filhos de uma geração que permitiu a destruição da humanidade básica de um país.

Que não nos iludamos: todos nós – enquanto sociedade – somos responsáveis por essa desgraça que exterminou o presente e o futuro do Brasil. Não é só a classe média, não é só a imprensa, não é só a classe política, não é só o poder judiciário mais infame e partidarizado do mundo.

Nós, meros trabalhadores mal remunerados, professores, jornalistas, motoristas, enfermeiros, carregadores, comerciantes, cozinheiros, músicos, eletricistas, engenheiros, somos todos agentes indiretos dessa catástrofe social sem precedentes.

Nós fomos cúmplices. Nós aceitamos recuar. Nós deixamos o ódio anti petista (e anti humanista) tomar conta das redes sociais e das ruas. Nós deixamos de falar a verdade para fascistas digitais que eram nossos “amigos” para não contrariá-los e para não “perder a amizade”.

Nós tivemos “cuidado” em não ‘magoar’ e em não “contrariar” gente violenta e covarde que aparentemente figurava em nosso rol de amizades. Eu, Gustavo Conde, permiti que isso acontecesse.

Eu fiz vista grossa durante muito tempo diante das inacreditáveis violações explícitas de direitos humanos, bem como da violência verbal de supostos amigos que poderiam muito bem estar hoje na cadeia, senão pelas ofensas e injúrias que distribuíram como profetas do ódio, pelo volume inacreditável de corrupção que praticaram e continuam praticando, sonegando impostos, fraudando documentos, superfaturado notas na mais pacata rotina familiar multiplicadora de danos de caráter.

A banalidade do mal de Hanna Arendt aplicada ao Brasil seria quase uma piada de mau gosto. O mal aqui não é banal, é visceral.

Eu me calei durante muito tempo diante dessas atrocidades verbais que ex-amigos praticaram de maneira insana e repleta de frustração sexual e ódio, sempre dirigidas a Lula e a Dilma Rousseff. Sinto nojo deles e de mim mesmo, quando vejo o que aconteceu com o país e com o meu próprio entorno social, todo ele profundamente degradado do ponto de vista intelectual e cognitivo – e operacional, já que muitos perderam o emprego.

Eu sei que nós iremos recobrar a história e a democracia um dia. Mas não posso deixar de lamentar e de sentir com profunda dor esse episódio grotesco de devastação política e social deliberada que eu jamais esperaria emergir da minha própria espécie, com todos os defeitos e limitações que eu sei que ela tem e sempre terá.

Temer e PSDB não são inimigos do PT. Tampouco da democracia, apenas. Eles são inimigos da humanidade. São inimigos da vida. São inimigos das crianças. São meus inimigos.


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