Temer é a expressão máxima da catástrofe humana. Ele deveria
– deverá – ser condenado um dia por crimes contra a humanidade. O que ele faz
com o patrimônio público é caso de polícia, é o tucanismo em seu grau mais
degradado de subserviência sub intelectual.
Mas o que ele faz com a questão humanitária no Brasil só tem
paralelo com os maiores genocidas da história moderna, de George Bush a Saddam
Hussein, de Pinochet a Donald Trump.
Temer não está sozinho nisso, claro: é ele e seu governo, ambos tomados pelo tucanismo
mais medíocre e subdesenvolvimentista, uma parceria infame da desgraça.
Na linha desse tucanismo destituído de toda e qualquer capacidade
gerencial e ainda acometido de uma gama imensa de ressentimentos e frustrações intelectuais,
Temer simplesmente abandonou os programas de vacinação universal brasileira, um
dos programas de imunização mais elogiados do mundo.
A cobertura de vacina no Brasil é – foi – uma das mais bem
sucedidas do mundo, é preciso dizer e destacar. Erradicou várias doenças e
colaborou para que o Brasil democrático do passado cumprisse as metas do
milênio com 10 anos de antecipação.
Desde o golpe, a mortalidade infantil cresceu, dezenas de
doenças erradicadas retornaram com força e, neste infeliz dia de hoje, ficamos
sabendo que, só este ano, mais de 840 pessoas morreram em função de gripe,
sendo que a maioria é de crianças.
Tudo porque o ministério da saúde foi sucateado e rifado,
evidentemente, pela brutal falta de visão estratégica e humanitária de um
governo que já nasceu podre e usurpador de ofício.
Temer chegou a tirar dinheiro dos programas de vacinação
para colocá-lo em campanhas de propaganda pessoal, direto nos cofres da hiper aparelhada
Secom.
O resultado é esse. O Brasil não resistiria, de fato, a uma nuvem
de gafanhotos tão assassina. Interromper processos delicados e longos de assistência
médica e social, só para demarcar distância ideológica dos governos do PT se mostrou
uma das mais incríveis estupidezes que a história política do Brasil teve a
capacidade de produzir.
Não há literatura para isso. Dará um trabalho imenso
verbalizar e organizar tamanha loucura de uma casta de políticos corruptos
alçados ao poder por uma imprensa suja e igualmente genocida.
A minha paciência retórica com esse holocausto social que se
promove no Brasil já vai se esgotando. Dizem por aí que fazer comparações do
Brasil com o nazismo e com as catástrofes genocidas que se alastraram pelo
mundo no século 20 é um exagero. Eu não me intimido.
Não me intimido e acho, na verdade, que é pouco. Entendo que
Michel Temer e PSDB juntos são muito piores do que qualquer regime autoritário
e genocida que já tenha despontado em algum país mundo afora.
Porque esses agentes da desgraça e do desespero operam a
matança de um povo por trás de uma cortina de proteção de uma imprensa igualmente
cúmplice e criminosa, que denuncia os horrores de um governo de maneira ‘asséptica’
e não é sequer capaz de dar uma linha editorial mínima e humanamente indignada,
como rezaria o bom jornalismo que não se apega a teorias de “neutralidade” do
passado, concepção técnica obsoleta no que diz respeito à produção jornalística.
Eu sinto profunda vergonha da falta de caráter da nossa
imprensa, que já passou de todos os limites de impostura e desumanidade. Eu
sinto profunda vergonha de uma classe média que permitiu que o país fosse mergulhado
em tamanho desespero e em tamanho absurdo político.
Eu sinto profunda vergonha da apatia e da cabeça baixa de
muita gente que perambula pelas ruas e assiste deprimida ao caos social e
humano que uma facção criminosa instalou, via golpe, em uma sociedade que ia construindo
com muita dignidade e de maneira acelerada o seu futuro e o futuro das próximas
gerações.
Perto disso, Petrobrás e Embraer são café pequeno. Perto da
desumanidade, do cinismo assassino de um governo incompetente e indiferente, as
riquezas acumuladas do país que estão sendo doadas são só um detalhe.
A devastação social e espiritual de um país inteiro é a
nossa grande e imensa ferida que iremos carregar para toda a vida juntamente
com a herança degradada que deixaremos para os nossos filhos, igualmente
tomados pela vergonha de serem filhos de uma geração que permitiu a destruição
da humanidade básica de um país.
Que não nos iludamos: todos nós – enquanto sociedade – somos
responsáveis por essa desgraça que exterminou o presente e o futuro do Brasil.
Não é só a classe média, não é só a imprensa, não é só a classe política, não é
só o poder judiciário mais infame e partidarizado do mundo.
Nós, meros trabalhadores mal remunerados, professores,
jornalistas, motoristas, enfermeiros, carregadores, comerciantes, cozinheiros,
músicos, eletricistas, engenheiros, somos todos agentes indiretos dessa
catástrofe social sem precedentes.
Nós fomos cúmplices. Nós aceitamos recuar. Nós deixamos o
ódio anti petista (e anti humanista) tomar conta das redes sociais e das ruas.
Nós deixamos de falar a verdade para fascistas digitais que eram nossos “amigos”
para não contrariá-los e para não “perder a amizade”.
Nós tivemos “cuidado” em não ‘magoar’ e em não “contrariar”
gente violenta e covarde que aparentemente figurava em nosso rol de amizades.
Eu, Gustavo Conde, permiti que isso acontecesse.
Eu fiz vista grossa durante muito tempo diante das inacreditáveis
violações explícitas de direitos humanos, bem como da violência verbal de
supostos amigos que poderiam muito bem estar hoje na cadeia, senão pelas
ofensas e injúrias que distribuíram como profetas do ódio, pelo volume inacreditável
de corrupção que praticaram e continuam praticando, sonegando impostos,
fraudando documentos, superfaturado notas na mais pacata rotina familiar
multiplicadora de danos de caráter.
A banalidade do mal de Hanna Arendt aplicada ao Brasil seria
quase uma piada de mau gosto. O mal aqui não é banal, é visceral.
Eu me calei durante muito tempo diante dessas atrocidades
verbais que ex-amigos praticaram de maneira insana e repleta de frustração
sexual e ódio, sempre dirigidas a Lula e a Dilma Rousseff. Sinto nojo deles e
de mim mesmo, quando vejo o que aconteceu com o país e com o meu próprio
entorno social, todo ele profundamente degradado do ponto de vista intelectual
e cognitivo – e operacional, já que muitos perderam o emprego.
Eu sei que nós iremos recobrar a história e a democracia um
dia. Mas não posso deixar de lamentar e de sentir com profunda dor esse
episódio grotesco de devastação política e social deliberada que eu jamais
esperaria emergir da minha própria espécie, com todos os defeitos e limitações que
eu sei que ela tem e sempre terá.
Temer e PSDB não são inimigos do PT. Tampouco da democracia,
apenas. Eles são inimigos da humanidade. São inimigos da vida. São inimigos das
crianças. São meus inimigos.
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