Essa imagem é muito forte por várias razões. Primeiro, a
presença de Ricardo Stuckert, ao fundo, fazendo sua grande arte. Stuckert e
Lula não são apenas fotógrafo e fotografado, são uma emanação visual e humana.
Eles fazem uma parceria que transcende a técnica porque é a sensibilidade
somada não apenas à monumentalidade, mas também à simplicidade de um cidadão ama
seu povo e suas origens.
Stuckert tem essa mesma simplicidade e fala a mesma língua
de Lula. Quando estão em ação, eles se movimentam com a simetria dos elementos
complementares e a sincronicidade das tensões humanas. É daí que vem a pletora de
imagens espetaculares que cravam na história uma iconografia única, cujo
protagonista é o povo e a humanidade encarnada no mais amoroso e amado dos seres.
Lula e Stuckert, em si e em movimento, são os dois
igualmente objeto de contemplação, de amor e de esperança.
Mas a curiosa imagem, clicada no relance por um observador
atento (o fotógrafo Felipe Lima Gonçalves), ainda desvela mais significações. Temos
ali três jornalistas celebrando a oportunidade de estarem juntos ao maior ícone
de nosso tempo – um deles veio do Camboja apenas para estar ali. É a fração de
segundo seguinte ao contato e à saudação, a distensão muscular que faz girar a
moenda dos afetos, estampada nas expressões e nas cifras de movimento.
O mais impressionante, no entanto, é o próprio Lula. Jovial,
ele parece um menino. A mão nos óculos, com sua aliança de noivado, revela atenção
e esperança, e o olhar para baixo, a humildade peculiar de quem realizou a maior
revolução democrática e humanística da história do país.
Os livros em punho, no entanto, são a informação visual mais delicada. Lula se tornou um aluno – no entanto é visto como professor
pelos jornalistas que quase o aplaudem. O presidente que mais amou a educação
no Brasil e que mais obras realizou em nome de nossa soberania científica e
intelectual está ali, bem diante dos nossos olhos, como um aluno aplicado,
carregando seus livros e anotações.
Quem, na face deste mundo de Deus, poderia dizer que este
homem está preso?
Lula prossegue sendo o mais livre dos homens, o mais
inspirador dos líderes, o maior exemplo de caráter e dignidade para as crianças
do mundo.
A Amazônia incendiada, os animais carbonizados, as cidades soterradas
por lama tóxica, os rios mortos, os escombros da indústria naval, os viadutos
condenados, o céu diurno escuro como a noite, as filas gigantescas de
desempregados, os povos indígenas, os estudantes que abandonaram seus cursos, a
imensa população de rua, todos, de uma forma ou de outra, choram por Lula, choram
por um país que um dia foi pleno de felicidade, autoestima, fibra democrática e
soberania.
Está tudo nesta imagem delicada, despretensiosa e atravessada
pela verdade histórica. Basta cruzar os fatos.
O Brasil chora por ti e te espera, querido Lula. Sua
ausência nas ruas, nas praças e nas estradas, viajando este país e nos
representando, dão uma sensação de abandono. Mas sabemos que não é isso. Você
nos foi arrancado para que nós nos intimidássemos com os maus perdedores de
praxe, sempre violentos e ameaçadores.
Que o tempo não nos prive mais da tua inteligência, da tua
generosidade, da tua fibra, da tua perseverança, da tua teimosia.
E o que peço, é o que sinto, é o que vejo.
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