sexta-feira, 23 de agosto de 2019

A soberania intelectual de Lula



Essa imagem é muito forte por várias razões. Primeiro, a presença de Ricardo Stuckert, ao fundo, fazendo sua grande arte. Stuckert e Lula não são apenas fotógrafo e fotografado, são uma emanação visual e humana. Eles fazem uma parceria que transcende a técnica porque é a sensibilidade somada não apenas à monumentalidade, mas também à simplicidade de um cidadão ama seu povo e suas origens.

Stuckert tem essa mesma simplicidade e fala a mesma língua de Lula. Quando estão em ação, eles se movimentam com a simetria dos elementos complementares e a sincronicidade das tensões humanas. É daí que vem a pletora de imagens espetaculares que cravam na história uma iconografia única, cujo protagonista é o povo e a humanidade encarnada no mais amoroso e amado dos seres.

Lula e Stuckert, em si e em movimento, são os dois igualmente objeto de contemplação, de amor e de esperança.

Mas a curiosa imagem, clicada no relance por um observador atento (o fotógrafo Felipe Lima Gonçalves), ainda desvela mais significações. Temos ali três jornalistas celebrando a oportunidade de estarem juntos ao maior ícone de nosso tempo – um deles veio do Camboja apenas para estar ali. É a fração de segundo seguinte ao contato e à saudação, a distensão muscular que faz girar a moenda dos afetos, estampada nas expressões e nas cifras de movimento.

O mais impressionante, no entanto, é o próprio Lula. Jovial, ele parece um menino. A mão nos óculos, com sua aliança de noivado, revela atenção e esperança, e o olhar para baixo, a humildade peculiar de quem realizou a maior revolução democrática e humanística da história do país.

Os livros em punho, no entanto, são a informação visual mais delicada. Lula se tornou um aluno – no entanto é visto como professor pelos jornalistas que quase o aplaudem. O presidente que mais amou a educação no Brasil e que mais obras realizou em nome de nossa soberania científica e intelectual está ali, bem diante dos nossos olhos, como um aluno aplicado, carregando seus livros e anotações.

Quem, na face deste mundo de Deus, poderia dizer que este homem está preso?

Lula prossegue sendo o mais livre dos homens, o mais inspirador dos líderes, o maior exemplo de caráter e dignidade para as crianças do mundo.

A Amazônia incendiada, os animais carbonizados, as cidades soterradas por lama tóxica, os rios mortos, os escombros da indústria naval, os viadutos condenados, o céu diurno escuro como a noite, as filas gigantescas de desempregados, os povos indígenas, os estudantes que abandonaram seus cursos, a imensa população de rua, todos, de uma forma ou de outra, choram por Lula, choram por um país que um dia foi pleno de felicidade, autoestima, fibra democrática e soberania.   

Está tudo nesta imagem delicada, despretensiosa e atravessada pela verdade histórica. Basta cruzar os fatos.

O Brasil chora por ti e te espera, querido Lula. Sua ausência nas ruas, nas praças e nas estradas, viajando este país e nos representando, dão uma sensação de abandono. Mas sabemos que não é isso. Você nos foi arrancado para que nós nos intimidássemos com os maus perdedores de praxe, sempre violentos e ameaçadores.
 
Que o tempo não nos prive mais da tua inteligência, da tua generosidade, da tua fibra, da tua perseverança, da tua teimosia. 

E o que peço, é o que sinto, é o que vejo.

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