domingo, 5 de abril de 2020

Ataque ao PT busca acirramento nas redes


Vejam o verdadeiro propósito do parecer do vice-procurador-geral eleitoral, Renato Brill de Goés, que aceitou o processo pelo cancelamento do registro do PT: acirramento nas redes.
Detalhe: em plena pandemia e em plena inépcia do governo.
Pilhas de cadáveres já se acumulam e vemos o direito concurseiro prosseguir em seu projeto, não apenas corporativista, excludente e corrupto (lembremos de Dallagnol), mas agora também, de genocídio.
Eles jamais irão parar.

Não e só Bolsonaro que "continua". É esta casta anti-país que segue embalada pela conivência da imprensa (alguém viu alguma nota em defesa do PT na imprensa tradicional acerca da aberração do vice-procurador?), pela perplexidade da opinião pública (já paralisada antes da pandemia) e pela "polifonia de egos" que habita setores da esquerda e das mídias progressistas.
Todos seguem a 'dança do apocalipse', com o ceticismo gourmet que lhes é peculiar.
É um desafio novo e eu confesso que também estou um tanto perdido, mas com uma diferença: não tenho patrimônio, não sou candidato a nada, sou suicida (eu nem monetizei meu canal no Youtube ainda), não dou carteirada acadêmica e me recuso a embarcar em efeitos manada para continuar existindo.
Miseravelmente, a minha contra-hegemonia é estrutural (sou como a lagartixa: não tenho o rabo preso nem comigo mesmo).
Diria o seguinte, para ser desagradável: nessa pletora de seres pacientes, bem comportados e posando de bons moços, alguém precisa não ter medo de estar 'errado' e remar contra a maré, toda ela.
Esse 'sacrifício' faço absoluta questão de incorporar.
Feito o espasmo narcísico, aproveito a viagem para invocar a linguística de botequim que caracteriza minha habitual ladainha:
Notem o que o robô do Twitter enuncia. Ele acusa o PT exatamente daquilo que marca o campo oposto (o seu próprio campo).
É a chamada 'desapropriação' de discurso.
Novidade? Nenhuma.
Mas é a re-encenação desse protocolo - que não cessa de se inscrever como diriam psicanalistas - que estabelece a lógica que nos mantém silenciados - que neutraliza o nosso discurso.
É o vírus da linguagem. Essa 'apropriação' semântica, parasita, imobiliza o contraditório e impõe uma cenografia totalitária. Ela reinstala sempre a mesma premissa, a de que o PT é a origem de todos os males.
Parece trivial e bobo, mas, tal como o coronavírus, esse protocolo (que é executado em massa via redes digitais), compromete a capacidade responsiva (respiratória) dos sujeitos políticos que ainda desejam participar de algum debate.
Estes sujeitos - bem intencionados - são induzidos a aderirem esse 'jogo', mergulham em respostas 'pré-fabricadas de efeito' para renderem likes e manchetes em mídias alternativas (o que lhes resta) e promovem, de bom grado, uma espécie de 'autocancelamento'.
Só Lula é capaz de furar esse processo (não é uma bolha, é um processo). E essa falta de proficiência no cenário progressista se explica pela prepotência de certos agentes políticos, pelo desdém acerca de teorias contemporâneas da linguagem, mas, sobretudo, pelo fato de que ninguém aprende a 'ser Lula' ou a 'agir como Lula'.
A impossibilidade de "se ser Lula", decorre das inúmeras singularidades de sua história, mas fundamentalmente de um gesto irrepetível: quando enuncia, Lula mobiliza as vozes silenciadas do país. Ele não construiu isso da noite para o dia.
Essa memória enunciativa perdura - e, portanto, sua fala permanece ainda como a mais profunda e consequente em nosso imaginário social e político.
É por isso que precisamos dele para romper com o cenário de terror que toma conta do país.
Enquanto tivermos de lidar com essa tática de comunicação de guerra massiva, que alia justiça e Twitter, alimentada com requintes do antipetismo classista e com o ciúme antilulista que ainda trafega em setores da esquerda, o nosso país caminha para o mais trágico desfecho no combate à pandemia viral e política que nos solapou o futuro.
Convém não aceitar essa realidade tão docemente.

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