"Até quando a gente vai aceitar esse jogo imundo de blefes e informações truncadas por parte do governo, do jornalismo e de médicos sem qualquer tipo de compromisso com a vida humana - e sem a mínima noção da repercussão social de seus enunciados egocêntricos?"
Ao defender o uso da cloroquina para pacientes hospitalizados, o médico Roberto Kalil foi de uma irresponsabilidade e um egoísmo atrozes. Poderia até ter sua licença cassada, fosse o Brasil um país com instituições sérias.
A comunidade científica internacional, a OMS, os pesquisadores mais prestigiados e conceituados do mundo já deixaram mais do que claro que a ação da cloroquina em pacientes com coronavírus não está comprovada e pode causar efeitos colaterais graves, podendo levar o paciente à morte pelo uso irresponsável da medicação.
Há uma variedade imensa de medicamentos que está sendo testada para pacientes com coronavírus e as vacinas estão em fase intermediária de testes e aprimoramentos.
Se a indústria farmacêutica é um jogo podre como o mercado financeiro, a ciência não é - ou não deveria ser.
Jogar informações pretensamente científicas em redes sociais, talvez seja a fase mais sombria da produção industrial das fake news.
Roberto Kalil incorreu nessa prática, pois sabia que suas declarações seriam potencializadas pelo nosso jornalismo de cativeiro (ou: não era uma conversa privada). Fato é que a matéria da jornalista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, acirrou as milícias do ódio bolsonarista, o que certamente vai nos levar a mais um degrau no afrouxamento da quarentena.
Até quando a gente vai aceitar esse jogo imundo de blefes e informações truncadas por parte do governo, do jornalismo e de médicos sem qualquer tipo de compromisso com a vida humana - e sem a mínima noção da repercussão social de seus enunciados egocêntricos?
Kalil não é um boçal idiota como Bolsonaro, pelo menos não a princípio.
Deveria saber das consequências de suas declarações.
O grande dilema que torna a pandemia de coronavírus ainda mais perigosa e letal é o volume de informações falsas sobre a doença que circula pelas redes sociais, informações com origem nos interesses privados de grupos da industria farmacêutica.
Enquanto o Sr. Roberto Kalil tira uma foto sorrindo para colunistas de jornais - jornais esses que também veem a chance para tirar vantagem financeira da crise sanitária (a matéria 'bomba' nas redes do ódio) - e vaticina solitariamente sobre sua experiencia pessoal diante da medicação de ação incomprovada, milhares de brasileiros vão se enfileirando para as valas dos cemitérios, sem sequer ter direito a despedida dos familiares - e desorientados pelo governo mais incompetente e mal intencionado da história da humanidade.
Não é fácil lidar com tanta impostura diante daqueles que mais deveriam preservar o bom senso em um momento crítico como esse.
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