Recebi ontem de Daniel Souza, filho do Betinho, o clipe do Natal Sem Fome. Ele está muito concentrado na campanha e decidido a mobilizar o país. Não há outro caminho para que reumanizemos o mundo, senão o combate à fome.
Reumanizar as pessoas passa obrigatoriamente por combater a fome e a miséria, o patamar básico para que um ser humano possa querer exercer sua cidadania e sua liberdade.
“Para a fome não há vacina”, disse Daniel Souza. É doloroso dizer que o mundo procura a vacina contra a covid mas negligencia o combate à fome porque a fome só atinge os mais pobres - e o vírus, ainda que atinja mais os mais pobres, também atinge os mais ricos.
A luta é, portanto, complexa e acumula passivos classistas. No entanto, é uma oportunidade única para tentarmos promover um empuxo civilizatório em um mundo que amarga retrocessos. A razão é simples: se tivermos sucesso na luta contra a fome, teremos sucesso na reumanização das pessoas.
A luta é a luta em si, mas é também o conjunto de seus corolários e de suas consequências.
800 milhões de pessoas passam fome no mundo. Mas as bilhões de pessoas restantes que não passam fome e que se negam a lutar contra a fome estão passando por outro tipo de grave de privação: uma privação de ordem moral.
Elas carecem do sentimento de humanidade, amargam o “sobrepeso” da indiferença, padecem no egocentrismo do consumo, mergulham na precarização do sentido (não sabem o que significa a palavra ‘fome’ e criminalizam a luta contra a fome).
A luta é contra a fome e contra esse sucateamento do sujeito. São duas faces da mesma moeda, porque a luta contra a pobreza requer consistência técnica, política e filosófica - um ser precarizado intelectualmente não terá condições morais para se engajar na luta contra a fome.
A luta contra a fome é também a luta pela educação e pela saúde. Mas que não nos enganemos: a fome é a primeira e mais degradante barreira para que o ser humano tenha acesso à sua própria humanidade.
Eis uma singela solução para que o mundo saia da condição desumana em que aportou - após os maus perdedores do século apelarem ao coquetel ‘mentira e violência’ para retornarem a governos predatórios: lutar contra a fome com todas as forças que nos cabem.
Lutar contra a fome é humanizar as redes sociais. Lutar contra a fome é redefinir os parâmetros do debate público. Lutar contra a fome é exercer a humanidade de si para promover a humanidade do outro.
Não foi à toa que o Prêmio Nobel da Paz tenha sido direcionado ao Programa Mundial de Alimentos da ONU. É um recado forte aos povos do mundo: sem vencer a fome, não venceremos mais nenhum desafio social e/ou econômico.
É preciso aprender logo essa lição.
Ler Conde nos leva a revisitar Vidas Secas de G. Ramos, O Quinze de R de Queiroz e tantos registros que retratam o descaso com os menos favorecidos. Excelente artigo!
ResponderExcluirÉ um grande prazer ler e ouvir você. Comentários precisos com uma postura de grande humanidade! Grande abraço!
ResponderExcluirÓtima reflexão!!!
ResponderExcluirExcelente artigo.
ResponderExcluirÓtimo texto, Conde. Lembro quando trabalhei com meus alunos surdos do INES está pintura de Portinari e o texto de Graciliano Ramos, para abordar sobre a Fome. Eles ficaram tão admirados que há no mundo tantas pessoas sem ter um pedaço de pão para comer. Enquanto, não admitirmos este grande mal que nos consome, a desigualdade social com a miséria gritante, não evoluíremos enquanto ser humano no sentido pleno.
ResponderExcluirConde é muito bom! ❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤
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