A vitimização é uma
das estratégias mais mesquinhas do mercado político. E a freguesia dela é
vasta, tanto dos que a representam para si, quanto dos que se valem dela para
fulminar falsos algozes, num exercício covarde de assassinato de reputações em
doses homeopáticas.
O caso Freixo é
emblemático. O sujeito aceita as carícias retóricas de um jornal
escancaradamente reconhecido como falso conservador (o mais perigoso dos
conservadores), desfila um caminhão de clichês da pior qualidade possível,
revela um lado narcísico absolutamente desconhecido (um verdadeiro
"furo" de reportagem), confabula com a voz do jornal encarnada na
pele da entrevistadora, atinge um grau de ridículo inacreditável para um
suposto filiado a partido de extrema esquerda (mancha a imagem da extrema
esquerda - sic), choca adeptos e detratores pela canastrice exacerbada e,
finalmente, aponta na própria entrevista-armadilha, a senha para a repercussão
esperada por ambos, Folha e Freixo: o vitimismo político.
Mas, eu não quero
falar desse grau elementar de vitimismo, similar ao de Marina Silva em 2014, um
espetáculo de demagogia generalizada. Vale lembrar desta rapidamente: Marina
derreteu porque não soube responder a uma pergunta sequer sobre programa de
governo e política econômica. Ato contínuo, "intelectuais orgânicos"
acusaram o PT de desconstruir a imagem de Marina. Ridículo se não fosse trágico
(e intelectualmente desonesto).
Do que, afinal, eu
quero falar? Da plateia de notáveis que co-enuncia esse vitimismo fajuto e
forjado e aponta o dedo para tudo o que é lado - a título de conquista de likes
e da popularidade fácil.
Há um tipo de
flaneur mediador de debates bastante típico nesse sentido. Ele observa as
polêmicas, sente a oportunidade e toma partido imediatamente, num timing
preciso, misto de auto piedade e carência afetiva. Ele finca suas adagas no
simulacro de vilão construído pelo senso comum latejante.
Qual é o exemplo
prático disso? Tome-se o episódio Freixo, novamente. Em vez de discutir efetivamente
o que foi dito pelo entrevistado, desanca-se a condenar os críticos da
entrevista, como se ela, a rigor, nunca tivesse existido.
Fazem, ou melhor,
completam o serviço, afinal, a narrativa da entrevista foi construída
exatamente para isso: para fulminar as fileiras da esquerda que se organiza de
maneira acelerada.
Esse subproduto que
parasita processos de vitimização não é digno de pena: é digno de crítica.
Porque, em geral, não são subleitores nem meros usuários de rede social
querendo atenção e confete.
O uso deliberado da
vitimização alheia é o que costumo chamar de "farra do pressuposto",
o grande recurso daqueles que costumam fugir dos embates e debates cascudos da
democracia real. É o nosso diversionismo profissional, de grife, devidamente
amparado em uma rede de admiradores Poliana. "Ai, disse tudo" é o
típico comentário que será encontrado a rodo nesse tipo de publicação.
É preciso desconfiar
de quem foge ao debate, de quem enverniza demais, de quem busca aceitação e
consagração. É preciso combater, denunciar. Dói um pouco, porque, afinal, é
possível que haja, nas profundezas do gesto, alguma cifra de boa fé. Mas o
inconsciente não nega: é marketing.
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