sexta-feira, 9 de março de 2018

A idade da desrazão, Por Gustavo Conde

A questão da idade (tenho que dizer, com licença). O problema não são os bebês, nem os adolescentes, nem os adultos, nem os velhos, nem os mortos. O problema é o poder. O problema é a população economicamente ativa que se traduz no grau máximo da escala Richter do Darwinismo social.

Minha geração é o 'ó' do borogodó. Perdeu o sonho de criança e ainda não chegou na generosidade da velhice. É uma geração desgarrada, perdida, partida, destituída de sentidos. Se lerem este texto, vão inclusive dizer que estou "generalizando", tal é a hiperinterpretação que se apoderou de suas mentes inseguras. Não estou generalizando, estou argumentando. Não preciso dizer que há exceções. É desnecessário, deselegante, autoexplicativo.

O 'macho adulto' tem hormônio demais na cabeça. Inclusive são experts em projetar a responsabilidade pelas mazelas do mundo aos adolescentes. "Esses adolescentes estão perdidos". "Na minha época, era bem melhor". Quem não tem um parente obtuso ou um colega de trabalho que não teça essas peças da ignorância aplicada?

O ser de meia-idade é também de meio-raciocínio, social e conceitualmente falando (deixa eu desenhar, porque senão aparece alguém aqui esbravejando e me acusando de ser portador preconceito etário). Eu falo de uma 'posição social', gente. É o poder. Quem detém o poder na sociedade? Não são os velhos, nem as crianças, nem os adolescentes: são os machos adultos, cáspita! (Que, diga-se, desdobram-se em todos os gêneros e idades, tal é a sua força econômica, simbólica e cultural).


Eles é que produzem e municiam os sentidos defasados e plenos de preconceitos que toda a sociedade é obrigada a usar para se comunicar. Só os fortes resistem (e são imediatamente acusados de 'comunistas' ou 'agentes da esquerda' - o que para mim é motivo de profundo orgulho, aliás).

Eu dou aula para adolescentes e para idosos. Posso garantir que são os melhores públicos que este humilde professor de meia-idade poderia sonhar. Os adolescentes ainda não estão - completamente - estragados pela lógica darwinista da sociedade excludente e os idosos têm imensa compreensão dos fatos do mundo - e só ouvi-los com a devida atenção.

A impressão que eu tenho é que a 'terceira' ou 'melhor idade' (as mil nomenclaturas fajutas propostas exatamente pelo nicho de poder macho adulto) retornam ao período pré adulto e reconquistam a capacidade de sonhar e se encantar com a vida e com os sentidos.

Tente fazer um macho adulto se encantar com a vida ou com os sentidos e você correrá sério risco de ser atacado por uma dolorosa mordida retórica no meio da fuça.

De sorte que me sinto um privilegiado. Eu sou um lobo que abandonou a matilha e se juntou à fêmeas, velhos e filhotes que habitam as cavernas da paz de espírito e os riachos da melancolia. Contemplar é meu signo - ainda que minha porção hormonal não dispense uma boa luta.

Há de se nos conviver em nossas contradições. Não as temo. São, por assim dizer, minhas aliadas, como meu inconsciente e meu insuportável desapego material.

Velhos, moços e púberes, homens e mulheres, não há de ser nada tão 'grave'. Como diz Tom Zé, "eu sofro de juventude". Tudo, a rigor, são estados de espírito.

Que o 'meio-termo' e a meia-idade sobrevivam - portanto e com meus votos - a esse assédio permanente da história dos sentidos conservadores. Nada haverá de ser conservado, senão o princípio básico de liberdade, uma verdadeira pulsão da espécie, tão  sabotada quanto reproduzida.

Sem sonho ou utopia, a sociedade apodrece.

Um comentário:

  1. O COMUNISMO TEM QUE SER CRIMINALIZADO. TE MUDA PRA CUBA, SEU AGENTE DE ESQUERDA.

    ResponderExcluir