sexta-feira, 13 de novembro de 2020

PT vai continuar incomodando, por Gustavo Conde

Foto: Francisco Proner Ramos

Tem gente que fala da ‘arrogância’ do PT. Em geral é sempre gente de esquerda ou da elitizinha do eixo Folha de S. Paulo - Companhia das Letras. Ou seja, a galerinha bem nascida, branca, que transita bem nos circuitos intelectuais da ausência de posição. 

 

O pessoal de direita diz que o PT é ladrão, corrupto. É tosco e primitivo. 

 

Mas a esquerda sofisticada prefere os psicologismos. 

 

Por que a lembrança e a constatação já velha de guerra? 

 

Porque eu me lembrei do PDT de Brizola. 

Suportar a prepotência desse PDT nunca foi fácil. Eles se achavam os proprietários do progressismo brasileiro. Era o simulacro do PT hegemônico nos anos 80 e 90, sobretudo em seu ninho consagrado, o Rio de Janeiro. 

 

Não foi à toa a expressão “Sapo Barbudo” para fazer Brizola suportar o apoio que deu a Lula em 1989. Ele teve que engolir a adesão porque Lula teve mais votos. Foi um choque para o PDT e para Brizola - e os brizolistas jamais perdoaram ou aceitaram essa derrota. 

 

O apoio foi com o nó na garganta. 

 

Os pedetistas históricos sempre se acharam os portadores exclusivos da luta contra a ditadura. Para eles, o PT era um partido confuso, que veio para embolar o meio de campo da esquerda. 

 

Na verdade, o PT deu uma chave de perna semântica no PDT lá de trás, já extinto (porque o novo PDT é algo completamente diferente, para pior). Lula subverte e coloca a palavra ‘trabalhista’ no seu devido lugar: na estante empoeirada da história. 

 

‘Trabalhista’ é elitista, termo abstrato demais para fazer corações e mentes em um país assolado pelo analfabetismo político. O termo forte e insinuante é ‘trabalhador’. 

 

Com essa sutil operação lexical, Lula mudou todo o jogo da representação progressista nos anos 80. 

 

É sempre importante lembrar de Brizola e de seu legado. Ele é um herói da pátria - classificação que lhe foi concedida nos governos democráticos de Dilma Rousseff, pedetista e brizolista histórica. 

 

Mas muito desse ódio e dessa tática de cancelamento ao PT vem da prepotência dos que se achavam donos do discurso político de esquerda no país. 

 

O PT nasceu à fórceps, já causando cisões na maternidade. 

 

Não é à toa que seu símbolo seja uma estrela: brilhou a rasgou o céu do debate público do país, tomando o lugar de muita gente que se achava a última bolacha do pacote. 

 

Deu uma aula de democracia, aceitando três derrotas seguidas para a presidência e voltando para a oposição. Deu outra aula, quando finalmente venceu as eleições majoritárias nacionais e fez a desigualdade social cair 11% nos primeiros trinta dias de governo (dados do IBGE). 

 

Essa performance é insuportável para os outros setores da esquerda que, naquele momento haviam envelhecido. 

 

Hoje, o PT ocupa esta exata posição. Envelheceu. Mas há sutilezas. A desconsiderar a comunicação, a diferença principal no rol das metáforas biopolíticas é que o PT envelheceu bem. Basta olhar para Lula e constatar essa verdade meridiana.  

 

O PT segue seu caminho, com suas contradições de sempre, mas dentro de uma estrutura que é muito maior do que meras bandeiras partidárias: a estrutura do sonho e da utopia. 

 

Como partido preferencial no ódio projetado da nossa imprensa convencional, oligopolista e antidemocrática, o PT empurra os outros partidos menores de esquerda a se posicionarem no descampado seco das ambiguidades. E essas paixões gritam em períodos eleitorais. 


Muita gente fala que Ciro Gomes não é Leonel Brizola e não representa o PDT histórico. Eu diria o contrário: estão próximos, ainda que guardando algumas diferenças. 

 

Não fosse o contexto crítico desta missiva, muita gente estouraria rojões com essa percepção malandra. 

 

É por essas e outras que o PT permanece como pedra no sapato de todos os seus detratores, à esquerda e à direita. É por essas e outras que ele permanece despertando paixões. É por essas e outras que ele trepida contra todos os prognósticos que lhe são impostos por nossas elites mal educadas e despossuídas intelectualmente. 

 

E não se trata de nenhuma genialidade. A equação é simples: o PT é um partido genuinamente popular que recusou a elitização acadêmica e a fetichização histórica. 

 

Vai continuar incomodando.


Um comentário:

  1. PT é ímpar! Os incomodados que se retirem porque este partido já ocupa o seu espaço no Brasil e no mundo, junto ao Lula.

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