Tem um jogo de cena bem canalha em curso: Bolsonaro finge que não apoia Maia para a reeleição na Câmara e o STF carimba a possibilidade da reeleição no Congresso. A cobertura da mídia convencional acredita em Bolsonaro como a Chapeuzinho Vermelho acredita no Lobo Mau: jura que STF e Bolsonaro estão em posições opostas, quando, na verdade, estão de braços dados (e o resultado final será reconduzir languidamente Rodrigo Maia para mais um mandato - ou edificá-lo como herói do desapego ao vê-lo abrir mão de um terceiro mandato).
O chiqueirinho da mídia alternativa passa ao largo de toda essa movimentação e replica as matérias a respeito na mesma linha editorial do jornalismo padrão.
O cenário é complexo e exige um pouco mais que o control+C, control+V (exige tempo e tempo é dinheiro).
Ali, no chão da fábrica das notícias prontas, a opção é implodir aquilo que eles chamam de “esquerda”, colocando, por exemplo, José Genoíno contra Jaques Wagner (num simulacro editorial que beira o deboche) para gerar a energia digital revestida de ressentimento que empurra a militância já cansada de guerra pra lá e pra cá.
Quem divide a esquerda neste país?
Por que - desse meio - só Luis Nassif saiu na lista cômica dos detratores?
O circuito das ‘hard news progressistas’ (que sintagma medonho!) tem se notabilizado essencialmente por isso: pelas intrigas emocionalizadas nos intestinos do progressismo. É o que gera likes e deslikes, é o que gera ‘engajamento’ - ainda que na esteira de uma insignificância quantitativa de dar pena.
A resposta para esse protocolo também já nasce pronta: “somos democráticos e ouvimos todo mundo” (como se, nesse processo, não houvesse escolhas). No mundo conto de fadas das velhinhas de Taubaté da esquerda, só existe linha editorial oportunista e malvada nas hostes do jornalismo profissional.
É duro, eu sei, mas quem disse que a vida é fácil?
Deixa eu contar uma história para vocês.
Quando surge um fenômeno político-social digno de respeito, não há jornalismo profissional ou amador que dê jeito: a realidade se impõe cedo ou tarde.
Quando Lula surgiu no ABC, encantou meio mundo. Era o Boulos da época. Intelectuais ficavam de joelhos. Era chique e inteligente falar de Lula nas rodinhas de boteco.
Obviamente, Lula era mais que uma moda - e é por isso que esses mesmos intelectuais saíram de sua órbita para procurar outro planetinha mais descolado.
O que quero dizer é que enquanto dirigentes partidários, militância digital e intelectuais aposentados projetarem suas referências políticas naquilo “que se diz por aí” - que se apresenta também como ‘jornalismo engajado’ - o futuro dessa geração estará irremediavelmente comprometido.
Não se rompe com as elites domesticadas deste país, dançando na vitrine das subcelebridades digitais e no lodaçal das intriguinhas intra-partidárias.
De repente, o rescaldo noticioso que restou aos leitores de nicho, traumatizados com a dor do golpe, foi apenas o conjunto de disputas de bastidor que, por sua vez, empobrece qualquer debate público - deixando de discutir questões nacionais e questões de ordem prática.
Trata-se de um falso paradoxo - na verdade, o grau zero das saturações do discurso: o excesso de ‘politização’ despolitiza. Ficamos todos em uma zona de imobilismo, de fofoca, de frustrações, de simplificações que apenas nos une na solidão do desterro histórico.
Marginais por opção.
Para piorar, essa engrenagem age vampirizando as significações de Lula, o símbolo máximo da politização perdida. Defende-se Lula para atiçar a militância e só - porque, na prática, suprime-se sua representação pragmática e operacional, transformando-o em um fetiche.
É como uma antecipação de seu espólio. Tudo isso sob a conivência perturbadora de parte significativa de filiados de grife, que ‘refletem’, ponderam, assinam artigos, dão entrevistas e turbinam o espaço público digital dos outros, negligenciando a própria casa.
Narcisismo estrutural? Talvez, nem tanto.
Que saudade do tempo em que se falava de ‘classe trabalhadora’. Que saudade do tempo em que se falava de ‘dignidade do trabalhador’. Que saudade do tempo em que se falava de Lula como um guerreiro, como um protagonista, como um líder trabalhador, não como uma estátua de bronze a ser disputada por atores institucionalizados, vivendo sob os escombros do oportunismo e da covardia.
É bem isso. Disputa pelo espólio do Lula é prematura e canalha. A esquerda q quer tirar proveito do extermínio do PT e do Lula feito por uma mídia CANALHA e por uma elite não menos CANALHA, essa esquerda torna-se, também, CANALHA.
ResponderExcluirQualquer projeto que esteja sintonizado com a classe trabalhadora, passa pela defesa do presidente Lula, contra a sua condenação ilegal e tirada também ilegal do seu direito a disputar a eleição de 2022. Pois não vejo um projeto que seja a representação classe trabalhadora sem defender Lula. É preciso deixar isso claro para todos nós.
ResponderExcluirÉ chegada a hora dos morcegos saírem do descanso. Lula vai superar este percalço, espero.
ResponderExcluirEnquanto a Lula e Dilma não forem restituídos o lugar de direito, do qual foram apeados e impedidos, o estado de golpe continua.
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