sábado, 9 de dezembro de 2017

Leitura digital e pintura histórica

A experiência da leitura na internet merece ser melhor explorada. Dos layouts e designs de sites e blogs que venho observando há anos, não há muita coisa em termos de visualização que me pareça atrativa.

Conteúdo é outra história, há muitas coisas excepcionais, sobretudo as que vem de usuários da cena selvagem e "anônima", em geral jovens muito jovens que escrevem sem um pingo de frescura e com muita voracidade, gramaticalmente inovadores, semanticamente singulares. São dicções, vozes da cena digital, presente e futuro das narrativas, do relato e da história.

A minha concepção do que seja "visualização" de texto passa por todo um repertório visual pressuposto e suas respectivas percepções estéticas e significantes. A arte do design digital, em algum sentido, perdeu a conexão com os sentidos históricos e travou uma metalinguagem, comprimida entre o slogan, o corpo da letra, a diagramação, o banner, o gadget, o link.

Não é assim que vejo a experiência de leitura digital. É preciso amarrar os sentidos do texto com a pintura, a fotografia, a arquitetura, a arte e o sentido histórico de maneira geral. É preciso lembrar sempre que a internet é só uma plataforma, não um universo que se basta a si mesmo.

É com base nisso que tomo um caminho diferente na estrutura visual do meu blog. Embora a massa de textos que produzo seja essencialmente de cunho político, a estética do jornalismo, com suas fotos, ilustrações e disposições espaciais compartimentadas e em blocos, não me parece um plano de leitura minimamente interessante e, acima de tudo, "desalienante".

A automação da leitura e da própria experiência da leitura em escala, faz a qualidade do leitor rarefazer-se, como sói acontecer na cena dos compartilhamentos de informação atual, sejam eles físicos, sejam eles digitais.

A proposta que eu faço é mesclar a experiência visual histórica e plena de sentidos com textos sobre o cenário mais convulsionado da política mundial: o brasileiro. Não haverá, necessariamente, relação direta entre imagem e texto, senão aquela que pode libertar o leitor de sua zona de conforto, em que se recebe tudo mastigado e facilitado.

A proposta deste blog é perturbar o leitor, instigá-lo a escrever, a produzir sua leitura, a polemizar, a discordar, a assumir sua posição política com dignidade e inteligência. Tudo é muito simples, sem pendurricalhos, sem propaganda, sem a miríade de links para "otimizar" a navegação (sqn). Lembrando que isto é apenas um blog, não um portal.

Tudo é muito delicado, por assim dizer. A essência da linguagem é o próprio texto e todas as suas dimensões e filigranas, tudo o que se abre para ampliações, contestações e degustação simples. Este espaço quer, apenas e tão somente, fazer o espírito crítico aflorar em todos os sentidos.

E como o ilustre blogueiro sujo irá monetizar e/ou sobreviver? Bom, eu gosto tanto de escrever que até pagaria para isso. A questão não é tão essa. A questão é produzir interlocução. Isso me basta enquanto pagamento pelo meu trabalho de escrevinhador. A interlocução é um valor extremamente raro e importante nesse mundo selvagem. Ela agrega, ensina, lapida, constrói, produz, desacelera, realiza.

O valor 'interlocução' é, portanto, o que busco. Acessos, likes, compartilhamentos, escala, patrocínios, tudo isso é acessório. Evidentemente, não há proibições corporativas, mas o meu foco está e estará sempre voltado para os sentidos e para as interlocuções múltiplas que esses sentidos poderão alcançar.

Em suma: tudo isso para explicar e contextualizar minha opção inicial de selecionar imagens de pinturas históricas para preencher o espaço visual de um blog essencialmente político. Será assim e bato o pé. Não quero copiar nem o layout tampouco a dicção ou a expertise de ninguém. Quero construir a minha (ou melhor, a nossa). Sejam bem-vindos e boa leitura.

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