quarta-feira, 21 de março de 2018

Síndrome de Rimbaud, por Gustavo Conde

Não sei se vocês estão acompanhado, mas Mark Zuckerberg e o Facebook estão sendo acossados pelo governo americano e por governos e imprensa em geral. Precisa desenhar?

Precisa. A marca do Facebook é a mais forte do mundo, mas as pessoas e as empresas que as usam não querem se submeter às regras de um garotão. De uma certa forma, o Facebook enfrenta um novo tipo de preconceito: o preconceito aos jovens geniais.

Homens brancos e velhos dão as cartas no mundo dos bilhões. Quando um jogador diferente senta nessa mesa, os veteranos praguejam, hesitam, cochicham e sacam as pistolas.

As falas da personagem de Sean Parker no filme "A Rede Social" são um tratado dessa síndrome. "Ninguém quer receber ordens de um moleque de 20 anos que é mais inteligente e talentoso do que você."

Essa síndrome se alastra. Empresários, publishers, editores se descabelam e conduzem uma campanha global de difamação, via conglomerados de mídia e artigos cirurgicamente encomendados - e pagos - a supostos especialistas em tecnologia. A ordem é: ataque-se o Facebook.

Usuários também provocam minha curiosidade sociológica. Não saem do Facebook e passam essas horas em rede atacando o próprio suporte que lhes dá voz.


Parece uma história bem conhecida: manifestoches saindo nas ruas para que se lhe esmaguem os direitos.

O pânico ao novo se junta ao pânico à "pessoa nova". Os donos do Google, da Microsoft, da Apple não são jovenzinhos. Percebam que com eles o "diálogo" é mais fácil.

Mas Zuckerberg instiga os ódios profundos e arraigados. É um rapazinho. Como o gaslighting, o lawfare e tantas outras fobias e síndromes esparramadas pela civilização, o pavor às pessoas jovens é uma realidade. Precisa de um nome. "Síndrome de Rimbaud" me parece solene demais (e trágico). Mas, foi meu inconsciente que mandou - portanto, vou respeitar.

Riimbaud, poeta precoce, assombrou a França do século 19. Aos 15 anos, já era o maior poeta francês. Deixou um legado incomensurável de belíssimas e complexas poesias, para abandonar o ofício por completo aos 19 anos. Rimbaud esfregou na cara do mundo que o adolescente é muito mais inteligente e produtivo que as frutas estragadas dos agentes do sistema que se curvam ao primeiro susto.

Zuckerberg vem sofrendo essa campanha de ódio e incompreensão. A sociedade ocidental é mesmo surpreendente. Parece gozar da maior pulsão suicida de sua história. Quer a própria desgraça e a própria mordaça. Para quem leu Lacan, isso é simples de entender.

Zuckerberg está na iminência de sofrer um golpe. Para falar a verdade, não sei como ele aguentou até aqui. Deve ser um misto de sorte e alguma inteligência fora dos algoritmos que me escapa. Se Sean Parker está ao lado dele, isso pode ser explicado. Mas, as pressões que esse jovem sofre extrapolam minha capacidade de avaliação.

Mark Zuckerberg nao é nenhum herói. Quem lê o que escrevo até aqui pode ser induzido a pensar assim, tanta indução mecanizada na partilha dos textos sobre o mundo digital afora. Ele apenas entendeu que o paradigma das inovações atende pelo nome de "intercolaboração".

Ele amadureceu o conceito de rede social com base no que os usuários iam lhe fornecendo em termos de comportamento e psicologia. Por isso se tornou esse monstro indecodificável para as gerações analógicas. Sabe-se: aquilo que eu não consigo compreender, eu combato.

Por isso, o Facebook domina o algoritmo e faz dele o que bem entende. É copyright, será que ninguém aceita isso? Mais do que fazer o que bem entende, o Facebook faz o que está em seu conceito fundador: rede social é rede social, não é rede de notícias nem de negócios.

Eu tiro imenso proveito desse conceito. Talvez, porque eu não seja filiado a essa lógica do acúmulo insano de monetizações e carências afetivas. Minha vida material é um desastre, mas não a troco por uma vida simbólica que seja um desastre. Prefiro o desastre financeiro que o desastre mental.

E isso, o Facebook permite: a interação colaborativa e social de ideias e sentidos. E isso assusta. Porque gera um cérebro imenso e poderoso, decorrente da massa monumental de interações linguísticas que se desenrolam em seu espaço digital.

Se o Facebook e Mark Zuckerberg resistirem a tudo isso, eu vou me surpreender. Porque a sociedade passa por seu momento suicida. E essa pulsão é muito forte.

3 comentários:

  1. E a venda de dados dos usuários possibilitando influenciar eleitores desprevenidos, não é ilegal?

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  2. Gostei muito da análise sobre o Facebook e seu contexto.
    Você pode responder a pergunta do Ricardo B Ferreira?

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